É fácil ser explosivo e explicar tudo pela impressão inicial. O difícil é esmiuçar e ver com lupa, em isenta busca da profundidade dos fatos.
A Operação Lava-Jato fez do juiz Sérgio Moro e dos procuradores do Ministério Público destemidos heróis que levaram à prisão intocáveis ladrões, até então protegidos pelos conluios da politicagem. Mas a Justiça tem dupla face (absolve ou condena) e, agora, surge o lado oculto. E a mais importante ação judicial da nossa História dá, até, a impressão de que foi tramada nos porões, obra de moderno Ali Babá.
Os tais "vazamentos" das conversas entre Moro e o procurador Deltan Dallagnol mostram uma intimidade que, nos ritos judiciais, beira à promiscuidade de uma ação combinada. Não foi isto, porém, que encarcerou Lula da Silva. Promíscua, mesmo, foi a aliança do crime com a política, que Lula e o PT organizaram dando aos experientes MDB de Temer e ao PP de Maluf o comando do bilionário assalto à Petrobras.
Agora, a difusão dos diálogos entre Moro e Dallagnol tenta recriar a sensação de que Lula foi vítima de "uma sentença acertada" entre acusadores e juiz. Mas, nada do que condenou o ex-presidente foi desfeito sequer nas apelações de seus defensores. O tríplex do balneário de Guarujá é trapaça miúda, mas revela o "crime organizado" que vicejou na Petrobras.
É válida a espionagem em busca da verdade?
Trazer à luz o que se esconde é crime?
Obter a verdade através da pirataria eletrônica foi deplorável e condenável, mas a perfídia não nega nem apaga o delito. Em 2016, o próprio Moro interceptou o telefone de Lula e divulgou uma conversa com a então presidente Dilma para fazê-lo ministro da Casa Civil e, assim, obter "foro privilegiado". Depois, o juiz interceptou 14 horas de conversa dos telefones dos advogados de Lula.
A pergunta definitiva, portanto, é uma só: é válida a espionagem em busca da verdade?
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A era eletrônica aboliu a privacidade e, agora, mostra até a respiração de ministros do Supremo, juízes dos juízes…
Em abril de 2016, Dallagnol conta a Moro que falou com o ministro Fux, que "disse que podemos contar com ele para o que precisarmos, mais uma vez" e completou entre risos: "Só faltou, como bom carioca, chamar-me para ir à casa dele. Mas os sinais foram ótimos".
Tranquilo, Moro respondeu: "In Fux we trust", parodiando o lema norte-americano "In God, we trust", ou "em Deus nós confiamos".
E agora? O terrível em tudo é perceber que Moro pode não ser puro ouro. Agora, está em mora, como devedor da imparcialidade da Justiça.