O retorno da equipe do Grêmio a Porto Alegre, trazendo a Taça Libertadores da América, mostra como o júbilo é parte da vida. O futebol sempre despertou emoções e fez o delírio transbordar em alegria profunda, mas nos últimos tempos tudo se acentuou. Agora, até os colorados (como eu) festejam o Tri do Tricolor…
O engodo que domina a vida pública, em que a corrupção virou meta da política e já se alastra às relações de comércio ou salpica até as amizades, nos faz órfãos da confiança que gera a alegria. A desconfiança e o medo nos dominam e, assim, nos refugiamos no júbilo desportivo buscando algo bom ou pontos de apoio que nos façam mover os lábios para sorrir, não para berrar.
Aí entra o futebol. Belas firulas e pequenas maldades (as caneladas!) compõem o balé de correrias pelo gol. E nos empolgamos e festejamos, pois tudo termina ali. A vitória de hoje pode ser a derrota de amanhã e vivemos intensamente o júbilo, além até do que ele é.
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Em plena euforia da chegada triunfal da quinta-feira, amigos percorreram o bairro buscando assinaturas numa petição à prefeitura para retirar focos de mosquitos propagadores da dengue. Foram mal recebidos até em entidades que se dizem religiosas. O júbilo desportivo esquecera a solidariedade, fizera da alegria um simples berro.
Não se tratava sequer de reivindicação social que gerasse discórdias, mas de problema sanitário comum a todos. O único interesse era o futebol pelo futebol, talvez por estarmos (no Rio Grande) distantes da corrupção do conluio público-privado que mancha a CBF e o Comitê Olímpico.
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Um cisco maior caiu nos olhos em pleno festejo: a advertência federal de que a CEEE poderá perder a concessão de distribuição de eletricidade se não inverter R$ 2,6 bilhões em melhorias até 2020.
Brasília é bordel a céu aberto e os lençóis podem ocultar manobras e premiar grandes grupos (estrangeiros talvez, como anos atrás) e reinventar propinas. Mas o Rio Grande não tem iniciativas. O processo judicial do roubo à CEEE em 1988 no governo Pedro Simon, do PMDB, se fosse julgado, poderia levar os assaltantes a devolver R$ 1 bilhão, em valores atualizados.
Não há, porém, sequer sentença de primeira instância na 2ª Vara da Fazenda Pública. O governo Sartori não se interessa, o Ministério Público e o Tribunal nada dizem, a oposição não toca no assunto.
Tudo se oculta numa alegre tontura, como ébrios festejando a Copa Libertadores sem nos libertar da corrupção.