O termo "invencível" veio da Antiguidade grego-egípcia e definia os deuses. Só eles, donos do universo, jamais seriam vencidos. Na modernidade do Ocidente, a concepção judaico-cristã criou nova visão de Divindade e, ao longo dos séculos, "invencível" virou palavra exclusiva do futebol. Ou do desporto em geral.
No desporto, porém, os invencíveis têm atributos próprios. Jamais usam o alheio nem o dinheiro público para evitar que a Justiça quebre a invencibilidade e investigue de onde vem o poder de vencer.
No Brasil, o presidente Temer tornou-se "invencível" por imposição, como os deuses pagãos. Pela segunda vez, a Câmara dos Deputados impediu que o Supremo Tribunal o investigue como "chefe de uma organização montada para o crime", junto com os ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco.
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É como se nos empurrassem goela abaixo suco de laranja podre com vinagre...
Os cálculos divergem, mas até os menores mostram a tonitruante perversão da política. Em favores diretos ou indiretos aos deputados, a imprensa revela que Temer usou de R$ 12 bilhões a R$ 32 bilhões, manejando dinheiro público como se fosse centavos acumulados na poupança para caso de grave doença na família. Nada de cédulas, como os R$ 51 milhões das malas do seu ex-ministro e homem de confiança Geddel Vieira Lima. Tudo em verbas federais.
É de se temer que a moda se espalhe e Temer vire modelo único no transfigurado dia a dia do arremedo que chamamos de "política", em que a trapaça se esconde na lei.
A transparência que deveria caracterizar os governantes se mistura à secreta sordidez dos conluios. E é como se nos empurrassem goela abaixo suco de laranja podre com vinagre...
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Tudo são símbolos, porém. O voto de número 171 rejeitando investigar Temer e os dois ministros veio de um deputado do PMDB condenado por corrupção, mas que (beneficiado pelo "regime semiaberto") dorme na prisão e, de dia, é parlamentar "representante do povo". No Código Penal, o artigo 171 define o crime de estelionato...
Temer ou não temer, eis a questão! O presidente festejou a "invencibilidade" e disse que "a verdade triunfou mais uma vez". Que verdade, porém, pode surgir da não investigação? Que verdade pode brotar do ato de impedir que a Justiça leve adiante tudo o que a Polícia Federal e a Procuradoria-Geral da República desvendaram?
Por antecipação, os deputados absolveram Temer, Padilha e Moreira alegando "inconsistência" na denúncia. Só o prosseguimento do processo, porém, com o Supremo esmiuçando tudo, pode chegar a conclusões.
Enquanto isso não ocorrer, Temer continuará invencível réu da dúvida.