O futuro que me perdoe, mas o passado é fundamental! A celebração ecumênica pelos 500 anos da Reforma Luterana, na Catedral Metropolitana, na noite de quinta-feira, me faz repetir uma ideia-guia: só a consciência do que fomos ontem nos conduz ao amanhã.
Após quase cinco séculos, a Igreja Católica venceu o imobilismo e reconheceu que "o protesto" de Martinho Lutero, em 1517, não o desfazia como irmão. No final de 2016, no encontro fraternal de Lund, na Suécia, o papa Francisco e o pastor Martin Junge, da Federação Luterana Mundial, transformaram "o conflito em comunhão". Em mútua penitência, lembraram os erros que levaram milhares à tortura e à morte, quando por trás de tudo se escondiam mesquinhos interesses políticos e econômicos.
Já vendem franquias com a marca de Deus
Agora, quando, com outras roupagens, a intolerância polui o estilo de vida e, no vandalismo da sociedade de consumo, tudo vira mercadoria vendável (da falsa política à falsa religião), a celebração na Catedral extrapolou as duas igrejas. Já ao convocarem o ato (e passaram "do conflito à comunhão"), o arcebispo Jaime Spengler e o pastor Nestor Friedrich, presidente da Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil (IECLB), frisaram:
_ Vivemos tempos de pouco diálogo e muito confronto _, num alerta a toda a sociedade.
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Em 1517, as 95 teses, ou "protestos", de Lutero partiram da crítica à venda de indulgências: o dinheiro (arrecadado para construir a imponente Basílica de São Pedro, em Roma) "garantia a eternidade" e, assim, substituía a fraternidade do Evangelho cristão.
Hoje, desponta algo similar. Sob proteção de leis civis, abrem-se "pseudoigrejas" sem teologia, como um armazém ou barbearia. E, ali, milagres e prosperidade futura se compram ou se vendem em dinheiro para enriquecer missionário$ sem missão.
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Neste marco em que igrejas sem teologia catam fregueses como se fossem "fiéis", o Supremo Tribunal rejeitou (por seis votos a cinco) o pedido da Procuradoria-Geral da República para banir o ensino de confissões religiosas das escolas públicas. Ao dar o voto de desempate, a ministra Cármen Lúcia, presidente do STF, terá pensado na nova guerra que essas pseudoigrejas podem travar em busca de crianças e adolescentes nas escolas públicas?
Se já vendem franquias com a marca de Deus (num embuste que nem sequer Lutero sonhou em denunciar 500 anos atrás), o que farão agora?
O exemplo da reconciliação entre católicos e luteranos leva a não permitir a repetição dos erros de séculos atrás, movido$ pela cobiça do$ cifrõe$.