* Jornalista e escritor
O mês de setembro é o retrato-síntese de como definhamos, convencidos de que evoluímos. Em meus tempos de menino, desde janeiro nos preparávamos para a Semana da Pátria, em que o dia 7 não era apenas a Independência política de 1822, mas a emancipação nacional que almejávamos ou prevíamos como futuro.
Hoje, em vez de emancipação nacional e do orgulho saudável de criar nosso destino e ser donos do próprio nariz, optamos pelo servilismo, por copiar o que apareça. A tal de globalização invadiu todas as áreas e arrasou com o que construímos durante séculos. Perdemos a noção de cultura nacional e de passado. Até o idioma corrompeu-se com milhares de tolas expressões em inglês, mostrando que a
submissão nos habita sem percebermos. Ou que aplaudimos até. A música virou ruído. A poesia, um berro. O comportamento tornou-se áspero e individualista.
Copiar e ser uma caricatura de nós mesmos virou regra habitual. Pesquisar, criar e ter ideias próprias passou a ''feio'', ''brega'' ou ''cafona''.
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Não pertenço à seita atrasada dos que acham as cousas de ontem sempre acima das coisas de hoje, mas não sou cego nem surdo ou insensível. Todo dia perdemos algo de nossa condição humana (capaz de identificar o ''bem'' do ''mal'', ou o ''amargo'' do ''doce'') e viramos robôs, guiados por algo invisível e poderoso. E a cobiça da sociedade de consumo nos comanda em cada ato.
Passamos a ser feras com telefone celular, automóvel, computador e muita matéria plástica ao redor. Lambemos os beiços com os alimentos industriais produzidos a partir do petróleo e os hospitais estão repletos. As prisões mais ainda, pois a visão do próximo como nosso igual e irmão está fora de moda. Amigo mesmo, só o último modelo de celular.
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Nessa balbúrdia comandada por invisíveis cordéis, não se estranhe que o espírito patriótico e comunitário já não exista. Ou que o imperialismo seja um jargão a esmo. Nem que 7 de setembro seja dia que se festeje só por não trabalhar e passar de pernas ao ar.
Nem se estranhe que o presidente da República decida devastar a Amazônia (por decreto) e entregá-la a mineradoras cuja pátria é o lucro pelo lucro, dispostas a repetir o crime recente das barragens da Samarco em Minas.
Sem patriotas, há muito suportamos governantes corruptos e o ultrajante conluio entre a área pública e privada. Basta a Lava-Jato para comprovar o horror. Nunca como neste 2017, porém, vimos concentrar-se tanta desfaçatez e tanta suspeição nas altas esferas do poder, afetando até o presidente da República e seus íntimos.
Agora, é Independência ou sorte!
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