* Jornalista e escritor
O absurdo e a indignidade vicejam há muito no país, mas nunca tinham se exposto tanto e tão nus como nesta Semana da Pátria.
Da Pátria? Que pátria têm Palocci, do PT, e Geddel Vieira Lima, do PMDB? Ou Joesley Batista, ou os Odebrecht e outros corruptores e seus comparsas – os políticos no poder? Qual é a pátria dos governantes denunciados à Justiça? Lá estão Lula, Dilma & Temer, seus ministros ou asseclas, acusados de crimes mais sofisticados e mórbidos do que um assalto de rua.
Aí está o Comitê Olímpico e seu presidente Carlos Nuzman à cabeça do suborno em torno à Olimpíada do Rio.
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Os horrores recentes disputam um torneio do absurdo e da abjeção.
Fraco no idioma mas forte no suborno, o imperador da Friboi, Joesley Batista, assegurou que "nós irá moer" o Supremo Tribunal. Como curinga do plano corruptor, exibiu o ex-procurador Marcelo Miller (da confiança do procurador-geral Rodrigo Janot), que preparou a delação premiada que o fez impune.
As malas com mais de R$ 51 milhões em "dinheiro vivo", encontradas num imóvel usado por Geddel Vieira Lima, mostram como o poder político virou reles bandidagem. Ministro íntimo de Temer, Geddel (do PMDB) só deixou o governo ao provocar um escândalo com o então ministro da Cultura. Antes, fora ministro de Lula e diretor da Caixa Econômica com Dilma.
A delação-bomba do doleiro Lúcio Funaro (que "lavava" no Exterior o dinheiro sujo do PMDB) continua em segredo, mas o depoimento de Antonio Palocci ao juiz Sergio Moro somou indignidade e desfaçatez, expondo a débil condição humana.
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Com a naturalidade de quem narra um conto de fadas, o ex-ministro dos governos do PT e ex-deputado detalhou como a Odebrecht subornou Lula, como Lula montou o assalto à Petrobras para ter apoio do PMDB e do PP e como Dilma sabia de tudo. Deu cifras: R$ 200 mil "por palestra" de Lula, mais R$ 300 milhões à disposição.
Palocci parecia testemunha ocasional. A TV o mostrou tranquilo, como se narrasse algo alheio. Como se não fosse comparsa e não tivesse vínculos nem responsabilidade em nada do que apontava.
Chamou de "pacto de sangue" o acordo em que Lula acalmou a Odebrecht e garantiu que Dilma continuaria a beneficiar a empresa.
Após o depoimento de Palocci, o que dirão os militantes do PT que confiaram em Lula ou demais dirigentes e honestamente acreditavam que o juiz Sergio Moro era um "agente da CIA" que inventava maldades?
A indignidade comanda a relação entre os políticos e as grandes empresas. Já não se sabe quem decide em nome do povo: se os eleitos pelo povo ou quem compra os eleitos?