* Jornalista e escritor
O que há de podre em nosso reino? – indago neste 26 de agosto em que nasceu a era moderna com a proclamação dos Direitos Humanos em 1789. Nessa data, há 228 anos na França, a Assembleia Nacional concretizou os ideais da Revolução iniciada com a rebelião que tomou a Bastilha a 14 de Julho. O absolutismo político começou a cair naquele agosto, quando a igualdade de direitos legalizou a dignidade como condição primeira da existência.
Não é a data, porém, que me faz lembrar Shakespeare quando indagou o que havia de podre no Reino da Dinamarca?
Agora, apodrece nosso Reino Brasílis: por decreto, Temer liberou uma área de 47 mil quilômetros quadrados na Amazônia, maior do que toda a Dinamarca, para a exploração de ouro e cobre. Regredimos ao Brasil Colônia, quando a ''grande riqueza'' consistia em explorar ouro e degradar a natureza.
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Nove áreas de densas florestas protegidas e duas reservas indígenas serão entregues à devastação, como em 1600. Quatro séculos atrás, transformaram
as matas do nordeste em deserto. O ouro roubado das Minas Gerais pela Coroa de Portugal ia direto à Inglaterra ''em pagamento'' dos negros escravos da África.
Hoje, os prepostos de Temer no Ministério de Minas alegam que pelo menos quatro países estrangeiros querem ''investir'' na exploração. O principal é a Dinamarca, que cabe inteirinha na área e ainda sobram milhares de quilômetros...
Como explicar esse amor à devastação? Por que implantar o retrocesso em nome do futuro? Ou falsificar o presente, como se a indignidade fosse corriqueira virtude?
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Nos últimos tempos, um surto de horror domina os governantes. Agem como monarcas absolutistas dominados pela maldade. As tramas e tramóias de Shakespeare reaparecem, mas já não como teatro e, sim, como realidade.
Embora desmascarado pela Lava-Jato, o conluio criminoso entre governantes e grandes empresas não parece retroceder.
O Estado-burocrático que nos comanda com Temer e o PMDB à cabeça, quer vender o que é lucrativo para tapar o déficit gerado por altos funcionários incompetentes (inúteis ''carimbadores de papéis'') ou simplesmente ladrões. Temer quer leiloar as Loterias da Caixa, da Mega-Sena às demais, cujo alto lucro se destina à Saúde.
Mais ainda: quer leiloar a Casa da Moeda, onde nem o roubo escancarado de R$ 6 bilhões durante a gestão do trio PTB-PP-PT (no governo Lula-Dilma) evitou lucrar mais de R$ 3 bilhões.
É ou não algo podre?
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P.S.- Neste domingo, às 17h, a TVE Canal 7 reapresenta minha entrevista no programa 'Faces' sobre o que vi em política.
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