* Jornalista e escritor
O Titanic foi o mais luxuoso, insuperável e invulnerável navio de passageiros de todos os tempos. A viagem inaugural – de Le Havre, na França, a Nova York, em 1912 – foi festa contínua dos barões do dinheiro e do poder. "Nem Deus pode fazê-lo naufragar", jactou-se o magnata presidente da empresa naval, gabando-se da segurança e elegância do barco.
Nessa mesma noite, porém, no gelado Mar do Norte, um imenso e duro bloco de gelo rompeu o casco e o navio naufragou. Ainda não se conhecia radar nem eletrônica e o iceberg pôde mais do que a sacrílega gabolice da engenharia naval, que pensava saber tudo.
E que, por assim pensar, se exibia como se fosse um inusitado presente dos deuses, diferente de tudo e acima de todas as coisas.
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Talvez a metáfora seja maçante e envelhecida, já usada tantas vezes em muitas cousas, mas nosso Titanic acaba de afundar.
Sei que milhões de pessoas não acreditarão e seguirão crendo que aquele casco, com aparência de aço duro e puro, jamais seria carcomido, corrompido ou perfurado. Menos ainda, cheio de vermes e pestilências. Todos acreditamos assim um dia, quando – por entre velhos barcos sem cor – a nova nave surgiu colorida, indestrutível e resistente. Tão forte e de aço tão puro, que dizia navegar de um porto a outro (e por todos os portos) sem servir-se das mentiras vãs daqueles outros que, em vez de navegar, agiam como piratas.
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Com uma estrela na proa apontando à vermelhidão do horizonte, a nave não precisava de bússola ou outra forma de orientação. Em pleno sol ou em noite nublada, guiava-se por uma estrela. Se preciso fosse, pelo cometa enlouquecido que despenca do céu e se esvai como pó.
Mas, e na popa? Lá atrás, no porão, lugar preferido dos contrabandistas, onde tudo se deposita ou se acumula, o que havia? Sabe-se apenas que lá está o leme que guia o barco e lhe dá a direção.
Quase à popa, meio escondido e esquecido lá ao final, está o motor que faz a nave andar!
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Lula da Silva é o nosso Titanic. Acaba de naufragar a nove metros e meio de profundidade. As borbulhas do afundamento devem persistir pelo dobro do tempo, por 19 anos, alijando-o de qualquer tipo de navegação.
Durante longos anos sulcando arroios, rios, lagos e até mares, dizia enfrentar tempestades como se atravessasse um córrego. No máximo, dizia que molhava a canela. Era, ao mesmo tempo, a nave e seu intrépido capitão-comandante. Levado ao posto máximo do almirantado, quando o mundo inteiro viu se aproximar um tsunami, Lula olhou o mar e viu o que ninguém viu: aquilo era só uma marola, uma "marolinha". Quando a onda gigante bateu, o casco da nave chiou de dor.
Daí em diante, a história é conhecida e temos o que temos aí.
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Mas o Titanic não navegou sozinho. No vasto porão, Lula e o PT abrigaram os barcos do PMDB de Temer e do PP de Maluf e sulcaram mares com os demais da "base alugada". Sem rumo definido, ancoraram sempre onde o conluio com altos empresários facilitasse a corrupção.
O capitão do Titanic não criou a corrupção, é óbvio, mas foi seu grande disseminador e espelho. O trio PT-PMDB-PP chefiou a orgia na Petrobras. Hoje, cada novo assalto supera o anterior. O ex-governador do Rio, Sérgio Cabral, por exemplo, mostrou que o PMDB prescinde de cúmplices por lá. Também São Paulo, onde – há anos - o PSDB domina terra e mar.
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Agora, em pleno mar revolto, a canoa de Michel Temer usa todos o$ $ubterfúgio$ po$$íveis para chegar a quai$quer refúgio$ que façam a Câmara de Deputados negar licença para o Supremo Tribunal investigar a$ falcatrua$ pre$idenciai$.
Na Comissão de Constituição e Justiça, a canoa logrou derrotar o parecer do relator do pedido, que julgou lícito processar o presidente da República. Em tom de triunfo, ouviu-se o deputado Paulo Maluf proclamar: "Temer é homem correto, eu o conheço".
Se o verdadeiro Titanic tivesse ouvidos e pudesse ouvir, superaria o absurdo e navegaria até sem casco, de tanta vergonha!
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