O símbolo da vida pública e da política brasileira (ou daquilo em que foram transformadas pela vilania) não é Eduardo Cunha nem Jucá, Renan Calheiros, Sarney e outros caciques do PMDB, que só estão em moda por serem recentes candidatos à gaiola. Nem é Lula da Silva e seus apaniguados do PT. Não é símbolo sequer Paulo Maluf, chefete do PP, tão requintado, que recebeu no estrangeiro, na França, a condenação por roubo no Brasil.
Nosso símbolo maior é "o japonesinho da Federal", de nome Newton Ishii, o policial que (fuzil em riste) prendia empresários e políticos acusados na Lava-Jato. Só cumpria ordens judiciais, mas o fazia de um jeito tal, que virou "herói". Foi tema de marchinha de Carnaval e, ao visitar Brasília, deputados e senadores faziam pose em fotos com ele.
Agora, "o japonesinho" está preso por milionário contrabando do Paraguai em 2003, numa tramoia com outros 22 policiais e sete técnicos da Receita Federal. A condenação de 2009 só agora foi confirmada por tribunal superior. O símbolo dos símbolos do disparate, porém, é a postura da Federação dos Policiais Federais, que o apoiou e, de público, promete fazer tudo para libertá-lo...
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Perto dessa gente (e de outros mais), Rodrigo Janot não é só a exceção. É o oposto. Como procurador-geral da República, fez-se responsável pelo desmascaramento dos figurões que durante décadas deram as pautas da política e da economia. Alguns estão presos, outros a caminho. São tantos, que haverá ainda quem nos engane por certo tempo, até que um procurador federal e um juiz isento descubram a associação criminosa escondida no alegre conluio de políticos e empresários.
A independência do Ministério Público começa a mudar a face do país, mas ainda temos medo da verdade. A rotina da impunidade tem raízes no inconsciente e, agora, trememos quando Janot pediu a prisão dos presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados, do presidente nacional do PMDB e de um ex-presidente da República. Todos, pelo crime de tentativa de obstrução da Justiça na Operação Lava-Jato: Renan, Jucá e Sarney em forma direta, revelada em gravações; Cunha indiretamente, em manobras para evitar a cassação.
O pedido de prisão de intocáveis nos alerta sobre o purulento sistema de partidos a granel, dedicados mais ao crime do que à nação e que utilizam a democracia e o voto como ponte para o assalto e o enriquecimento pessoal.
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Foi por isso que no Congresso, em Brasília, só uma ínfima minoria festejou o pedido de Janot?
O medo a penetrar nas entranhas chega até ao Supremo Tribunal, que nada deveria temer. Só depois de muito relutar, o ministro Gilmar Mendes concordou com o pedido de Janot e autorizou investigar o presidente do PSDB, Aécio Neves, e o atual prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, por manipulação de dados do Banco Rural na antiga CPI dos Correios, que levou a descobrir o "mensalão". Aécio governava Minas Gerais, então, e Paes, hoje no PMDB, era deputado do PSDB e membro da CPI.
A usina de Belo Monte, na Amazônia, "joia de ouro" dos governos Lula e Dilma, está sob investigação do Tribunal de Contas. O custo ultrapassa R$ 33 bilhões, quando o previsto eram R$ 19 bilhões...
O ministério de Temer abriga gente sob suspeição da Justiça. Nem as Olimpíadas se salvam: há suspeitas de desvios na construção da Vila Olímpica, maior do que a dos Jogos Pan-Americanos, há uma década, em que alguém do ministério dos Esportes (nas mãos do PC do B) abocanhou R$ 13 milhões.
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E Sérgio Machado, alcaguete das gravações? O ex-chefão da Transpetro, ex-senador pelo PSDB e a quem, ao passar-se para o PMDB, o petista Lula nomeou (a pedido de Renan, Jucá e Sarney) para um bilionário setor autônomo da Petrobras, não é símbolo de nada. É, isto sim, a própria encarnação do cinismo.
Contou que deu "uns R$ 70 milhões a Renan, Jucá e Sarney" e, para atenuar a prisão, armou uma emboscada contra os antigos protetores: gravou conversas íntimas em que os três sugeriam como burlar a Justiça na Lava-Jato, ou como "chegar" ao ministro Teori Zavascki, no Supremo.
Bastam estes símbolos!