Analisando a lista de indicados ao Prêmio Açorianos de Teatro, dedicado a espetáculos que se destacaram nos palcos da Capital no ano passado, podemos concluir que tivemos uma ótima temporada. Trocando em miúdos, os artistas, técnicos e produtores entregaram montagens de excelente qualidade mesmo enfrentando um ambiente de crise no Brasil, com dificuldades de financiamento e de condições de trabalho.
Conheceremos os vencedores apenas no dia 6 de abril, no Teatro Renascença, mas já é possível celebrar a quantidade de espetáculos que receberam pelo menos uma indicação: 16, o que deu, em uma contabilidade meio rasa, pelo menos uma boa nova peça gaúcha por mês em 2018 para se assistir em Porto Alegre (na prática, temos bem mais a cada ano, pois várias retornam a cartaz e merecem ser vistas ou revistas, e isso sem contar os trabalhos de teatro infantil e de dança).
Não há um franco favorito para abocanhar os prêmios de teatro adulto, muito pelo contrário: vários receberam muitas indicações. Das Cinzas Coração, peça com Valquíria Cardoso e Jéferson Rachewsky que mostra o cotidiano de um casamento abusivo com a estética de um filme mudo (tudo na cena é em preto e branco), é o mais indicado, concorrendo em oito categorias. Essa montagem de curta duração conquista o espectador com uma história de violência contada com humor sutil e desfecho inovador.
Três espetáculos mereceram sete indicações cada. A Fome, da Cia. Espaço em Branco, foi um dos mais ousados do ano, o que é até uma redundância quando se fala nessa companhia. É tudo o que se espera do teatro contemporâneo: provocador, às vezes desconfortável, mas uma experiência da qual não se sai incólume. Arena Selvagem mostrou uma nova faceta do Grupo Cerco, com um mosaico de cenas sobre a animalidade no ser humano em um espectro de tonalidades que vai do dramático ao hilário. E Inimigos na Casa de Bonecas situou a obra de Ibsen no nosso tempo, em uma releitura que incluiu citações explícitas à realidade brasileira. Tanto A Fome quanto Inimigos... estrearam em um novo espaço para as artes cênicas na Capital, o projeto Ponto de Teatro do Instituto Ling.
Ainda falando em artes cênicas, concorrem ao Prêmio Tibicuera, dedicado ao teatro infantil, sete espetáculos, e ao Prêmio Açorianos de Dança, 10 (sem contar as categorias de "destaques", que não necessariamente indicam um espetáculo, mas às vezes um artista ou um projeto). Merecem uma análise à parte, mas comprovam que os palcos da Capital vibram, o que deixa ótimas expectativas para a temporada 2019.