É verdade que as personalidades mais visíveis das redes sociais costumam ser os chamados grandes influenciadores – os 10 youtubers mais visualizados e assim por diante. Mas esta visão panorâmica não permite ver alguns casos curiosos, mais de nicho. Adoro um segmento bastante específico do site de vídeos: os caras e as caras que fazem covers de heavy metal na guitarra, no baixo ou na bateria.
Não estou falando exatamente das bandas cover, que também são legais e têm seu charme, mas dos músicos amadores – ou não tão amadores – que tocam riffs e solos dificílimos em seus quartos. Porque é assim mesmo que se faz um virtuose: com horas e horas de treino nada glamouroso. Em muitos casos, os músicos até ensinam pacientemente como tocar alguma coisa, em uma verdadeira aula virtual.
Não era assim quando comecei a aprender guitarra, nos anos 1990. Naquela época, além da tradicional aula presencial com um professor, o que se tinha de recurso era um leque relativamente modesto de revistas especializadas, que começavam a aparecer. Cada edição era ansiosamente aguardada, pois ali é que se tinha acesso a entrevistas com grandes guitarristas (muitos dos quais conhecíamos a partir das próprias revistas), resenhas de equipamentos e – o melhor de tudo – as tablaturas para aprender a tocar clássicos do rock.
O YouTube acrescentou uma nova e importante camada a esse aprendizado. Na verdade, mesmo que você não tenha aspiração à vida de músico, pode se maravilhar com as inúmeras versões de Eruption, do Van Halen, disponíveis na internet, tocadas pelos mais habilidosos aprendizes de herói da guitarra. Os comentários dos usuários são uma diversão à parte. Aliás, os vídeos de cover de heavy metal são um dos poucos espaços onde realmente parece ocorrer uma saudável troca de ideias e brincadeiras entre os comentaristas – e não um amontoado de mensagens de ódio.
Há inclusive casos em que um ídolo pode virar youtuber, como é o caso de Kiko Loureiro, ex-guitarrista do Angra e atualmente no Megadeth, que costuma marcar presença com dicas e vídeos de cover. Parece uma ótima forma de se manter próximo do público em um momento no qual os virtuoses são figuras com risco de extinção. Tomara que essa tragédia nunca ocorra.