A segunda coletânea de poemas de Rupi Kaur, que será publicada em português no final de fevereiro de 2018, tem tudo para ser um novo best-seller literário, assim como foi seu livro de estreia. O que o Sol Faz com as Flores (Planeta), o novo lançamento, deverá confirmar a autora canadense de origem indiana como um dos maiores fenômenos da “instapoesia”, como ficou conhecida a onda de poetas que divulgam seus versos primeiramente no Instagram.
Abordando temas como trauma e abuso em uma perspectiva feminista, Rupi se diferencia do mar de generalidades onde naufraga parte significativa da poesia nascida das redes sociais, muitas vezes flertando com a autoajuda (não é o caso dela). Mesmo ainda curta, sua trajetória alia popularidade nas redes sociais e sucesso de crítica, destacando a internet como suporte privilegiado para a poesia.
É um caminho diferente do que se costuma esperar de autores desse gênero literário considerado de pouco apelo comercial (outra quebra de paradigma de Rupi): até pouco tempo atrás, poeta de sucesso era aquele que a muito custo conquistava a crítica dos jornais e revistas depois de muitos anos de trabalho árduo e livros ignorados. Era preciso cinzelar uma voz poética.
Não é segredo que os instapoetas – Rupi inclusive – expressam-se, em geral, por meio de versos simples e diretos, que se aproximam da dicção da prosa, como se conversassem com os leitores, ou melhor, como se enviassem um WhatsApp. O melhor desse debate, a meu ver, ainda está por vir: o quanto os critérios tradicionais de avaliação da poesia, que sempre valorizaram a forma, deverão ser repensados frente à produção que ganha legiões de seguidores/leitores à margem da crítica literária estabelecida.
Estarão errados os que cobrarem dos instapoetas uma sofisticação comparável à de Wislawa Szymborska ou Hilda Hilst? Deveremos estabelecer critérios diferentes para ler a poesia formatada para os livros e a poesia criada prioritariamente para a internet? Será esse um momento de decadência para a poesia ou, pelo contrário, de seu renascimento? Mas aqui já adentramos o terreno perigoso da presciência.