Quando começou a esquentar o debate sobre notícias falsas na internet, havia certa percepção de que o problema poderia ser resolvido com um esforço de veículos de imprensa e sites especializados em checagem de fatos para ajudar o leitor a distinguir o que é verdade ou não. Esse esforço ganha ainda mais relevância porque nem sempre a notícia falsa é plantada por um site ou blog obscuro: muitas vezes, é um político que tenta inflar seus feitos com dados enganosos.
Mas a questão sobre verdade e mentira na internet é muito mais grave do que a já preocupante questão das fake news. Uma série de reportagens da BBC revelou que a enganação atinge até mesmo a arena que os cidadãos costumam confiar, como o debate nas redes sociais. A apuração encontrou indícios de que perfis falsos podem ter sido contratados para tentar influenciar a opinião pública a favor de determinados políticos e, claro, ganhar votos.
É uma situação que pessoas familiarizadas com a tecnologia já suspeitavam, mas agora as evidências começam a aparecer. Costumávamos pensar que, no futuro, lutaríamos contra robôs descontrolados que se voltariam contra a humanidade, mas não previmos que a grande batalha seria contra autômatos que se fazem passar por seres humanos no Twitter ou no Facebook para semear a discórdia.
É apenas a ponta de um iceberg. Outra reportagem revelou que até mesmo a indústria cultural se vale de recursos de ética duvidosa como a compra de visualizações no YouTube ou audições no Spotify para aumentar artificialmente a popularidade de um artista – apesar de as plataformas fazerem o possível para coibir esse tipo de prática.
Como resultado dessas trapaças, precisamos aprender a desconfiar do que vemos por aí. Nada substitui o espírito crítico. Com a aproximação da campanha eleitoral, é hora de ficar mais ligado nas estratégias que podem ser utilizadas para criar uma falsa imagem da realidade. Não se deixe impressionar se um político que você julga incompetente parece popular na internet: pode ser tudo mentira.