Como ele próprio se define, Felipe Melo é um carioca que mora em São Paulo, mas que tem Porto Alegre no coração. A relação com a cidade começou em 2004, quando atuou no Grêmio. Na época, conheceu a esposa Roberta, e a partir daquele ano a sua trajetória profissional ganhou o mundo. Passou por Espanha (Almería, Mallorca e Racing Santander), Itália (Juventus, Fiorentina e Internazionale) e Turquia (Galatasaray).
Aos 36 anos, e desde 2017 no Palmeiras, virou ídolo e referência no clube. Com personalidade forte, costuma expor de forma clara as suas ideias. Assim como nesta entrevista exclusiva feita no domingo (15), quando Felipe esteve na capital gaúcha para o aniversário da prima da sua mulher. Confira como foi o bate-papo, com elogios ao Inter, expectativa de um grande jogo entre Grêmio x Flamengo, e o seu futuro profissional, que poderá ser como diretor ou comentarista esportivo.
Quando o Palmeiras enfrentou o Inter na Copa do Brasil de 2017, você fez grandes elogios ao time colorado, que na época estava na Série B. Lá atrás, você já via que esse grupo tinha qualidade para chegar a este momento, a uma decisão de Copa do Brasil?
Fazer chacota com um clube que está na segunda divisão é muito fácil. Difícil é entender e ver que o elenco é bom quando está na segunda divisão. É fácil falar do Inter agora que está na final Copa do Brasil. Eu entendo muito de futebol porque além de jogar, eu respiro. Eu consigo enxergar o potencial dos jogadores, e sempre vi o Inter muito forte, com um treinador muito bom. Ele está começando a carreira em um gigante do Brasil. Isso faz com que ele tenha muita pressão, mas está fazendo um grande trabalho e precisa de confiança. O clube hoje é uma das potências do país.
Também naquela época foi possível ver uma relação de muito respeito com o D'Alessandro. Você vê semelhanças em algumas coisas com ele, como liderança no clube, longevidade em alto nível e personalidade forte?
Eu joguei contra o D'Alessandro quando ele estava no Zaragoza, no Espanhol (Felipe atuou no Almería, Mallorca e Racing Santander). Naquela época éramos jovens, na flor da idade (risos). Existe respeito muito grande. Agradeço as palavras dele. Eu vi uma entrevista, antes daquele jogo de 2017, em que ele falou que queria o Felipe Melo no time dele. É muito bacana vindo de um grande atleta como ele, um cara que quando parar vai deixar o seu legado, e é ídolo no clube. Existe o máximo respeito por ele. Eu não costumo falar de outros jogadores. Mas ele tem uma canhota afiada. Ele merece que seja elogiado, porque são poucos no futebol assim. Nós somos os últimos dos moicanos. O futebol raiz está acabando. Este tipo de jogador está acabando. Eu me considero um jogador raiz. E o D'Alessandro também é.
Neste ano, você teve oportunidade de enfrentar tanto o Inter, como o Grêmio. Vem aí Grêmio x Flamengo, o que é possível falar deste confronto? O time do Renato segue jogando um futebol bonito na sua avaliação?
O Grêmio está em uma fase muito boa. Nós enfrentamos o Grêmio agora na Libertadores e por um descuido da nossa equipe nós acabamos sendo eliminados. No primeiro jogo ganhamos por 1x0, o Grêmio teve posse de bola, mas nós tivemos mais oportunidades. Poderíamos ter feito uma vantagem maior, de dois ou três gols. Não fomos capazes. E em casa, tomamos dois gols, e o Palmeiras não é um time que toma gol desta maneira. Enfim, às vezes não é o dia. Mas o Grêmio tem um ótimo futebol, um jogo muito bonito, com jogadores em ótima fase. E o Flamengo também. Tem jogadores no Flamengo que estão na melhor fase da carreira. Vai ser um jogo bacana, espero dois jogos de muitos gols, porque são equipes que jogam para a frente.
Você jogou na Espanha, Turquia e Itália, com chance de trabalhar com técnicos de escolas diferentes. Aqui no Brasil, o trabalho do Jorge Jesus e do Jorge Sampaoli entrou no debate dos técnicos, alguns entendendo que eles não estão trazendo grandes novidades. Qual é a sua opinião?
Acho que é importante ter os técnicos estrangeiros, assim como é importante ter jogadores de fora. O Brasil está aberto a tudo. Mas o mais importante é dar valor ao produto nacional. Não podemos trazer de fora treinadores de fora e colocar estes treinadores em pedestais e esquecer do produto nacional. São sempre bem vindos, creio que enriquece o futebol brasileiro. Mas repito, não podemos esquecer do produto nacional. Entre os jogadores, por exemplo, pode surgir uma joia da base que pode ser um novo Neymar. Não podemos trazer um cara de fora e enterrar o sonho da chegada de um novo Neymar. Assim como treinadores. A gente vê grandes profissionais que não tiveram oportunidades em grandes clubes, e estão fazendo trabalhos incríveis em equipes medianas.
Com essa característica de orientar jovens, como mostra o projeto da Next Academy, você vê o seu futuro nesta área? O que você fará depois de encerrar a carreira de jogador?
Eu não me vejo como treinador. Tenho quatro filhos e quero muito estar com eles. Daqui a pouco um deles pode entrar na universidade nos Estados Unidos e eu quero estar junto. As viagens e concentrações tomam muito tempo. Tivemos os nossos filhos cedo, assim quando eu parar de jogar, vou poder ajudar na fase de crescimento, estar com eles independentemente do lugar. Mas é claro que não me vejo fora do futebol. Eu respiro futebol, eu não sei o que seria de mim se não fosse o futebol. Daqui a pouco pode ser como diretor ou comentarista. Isso ainda vou pensar. O que é certo é que vou fazer o curso de treinador. Isso tem que ter. Vai saber também. Vai que surge uma oportunidade e eu penso: vem cá, vamos tentar. Enfim, a gente não sabe. Mas resumindo, não me vejo como técnico, mas estarei dentro do futebol.
Como é a sua relação com Porto Alegre?
Temos aqui a clínica Doutor Melo, uma rede de clínicas medicas. Minha esposa e sua família são da cidade e meu sogro é médico. Eu sempre lembro de como fui ajudado, então este é mais um projeto com o objetivo de ajudar na área da saúde. Agora vamos ter também a Next Academy (rede de academias de desenvolvimento pessoal através do futebol e educação, que tem Felipe Melo como sócio) no Rio Grande do Sul, em uma parceria com o Sindiclubes, que tem o Marcelo Castro, que é casado com a prima da minha mulher, como presidente. Os clubes daqui poderão utilizar os jogadores deste projeto. Eu costumo dizer que a melhor coisa que Porto Alegre me deu foi conhecer a minha esposa Roberta. Na época que joguei no Grêmio, fiquei pouco tempo, em uma fase ruim do clube em 2004, mas conheci ela. Além disso, a amizade com o Marcelo Castro. Então sei que tenho casa aqui, como eles tem lá em São Paulo. Eu sou um carioca, que mora em São Paulo, mas que tem Porto Alegre no coração.