A venda de bebidas alcoólicas nos estádios do Rio Grande do Sul segue no debate entre as autoridades. A comercialização continua proibida, mas um grupo de trabalho composto por deputados estaduais, integrantes do Ministério Público, Brigada Militar e representantes de clubes de futebol, prepara um estudo para discutir ainda mais a questão.
No Grêmio, o presidente Romildo Bolzan já se manifestou de forma favorável à liberação. Do lado do Inter, o presidente Marcelo Medeiros também, mas com a ressalva de que seria recomendável realizar a venda somente até o intervalo das partidas.
Enquanto o assunto segue sendo discutido, a coluna procurou um especialista na operação de estádios para entender o que representaria a volta das bebidas alcoólicas. E o aspecto financeiro é surpreendente, já que a receita pode subir entre R$ 8 milhões e R$ 10 milhões por ano. Neste momento, Inter e Grêmio não têm direito aos valores comercializados nos bares dos estádios, já que a quantia fica com quem faz a administração deste tipo de serviço.
Confira o resumo da conversa com Pedro Lima, sócio da Golden Goal, com 12 anos de experiência no mercado esportivo, e responsável pela operação dos 12 estádios da Copa do Mundo de 2014.
O que representaria a volta da comercialização de bebidas alcoólicas nos estádios do RS?
Essa é uma grande discussão, que envolve a operação dos estádios nos últimos anos. E a Copa do Mundo foi um exemplo positivo, com a cerveja liberada nos estádios sem nenhum grande problema. Não existe relação entre a comercialização de cerveja e qualquer tipo de briga ou tumulto nos estádios. Temos percebido que em várias arenas acontecem confusões, e nestes locais não se vende cerveja. E em outros locais não são registrados problemas, mesmo com a venda liberada. Não existe estatística que prove que a bebida aumenta o número de confusões nos estádios. E com a proibição, os torcedores ficam consumindo o produto no entorno, e isso obviamente gera um problema gigantesco de logística e de operação do estádio, porque muita gente decide entrar 20 ou 30 minutos antes da partida começar, gerando confusão nas catracas. A liberação da cerveja vai trazer benefícios. Primeiro, porque não há relação com violência. Depois, porque se resolve um problema de fluxo de pessoas. Além disso, os clubes também vão ganhar financeiramente, aumentando o tíquete médio de consumo de alimentos e bebidas em 50%. E também existe a possibilidade de se ganhar dinheiro com contratos de exclusividade com determinadas marcas.
Em média, quanto vale um contrato de exclusividade para vender seus produtos em estádios do tamanho da Arena e do Beira-Rio?
Varia bastante, depende do número de jogos, da localização. Mas, aqui no Brasil, varia de R$ 1 milhão a R$ 3 milhões por ano pelo direito exclusivo de comercialização da sua marca de cerveja no estádio.
E somando tudo, é possível aumentar muito o faturamento?
Vamos fazer uma conta por baixo. Tem 35 jogos de um determinado clube por ano, com uma média de 25 mil pessoas. O tíquete médio de consumo de produtos passaria de R$ 10 para R$ 15 a R$ 18. Ficaria com um faturamento de R$ 16 milhões por ano, com a cerveja. Sem contar a cerveja, ficaria em R$ 8,7 milhões. É quase o dobro.
Com a cerveja liberada, é possível trabalhar com o mesmo efetivo de segurança dentro dos estádios?
Eu acredito que é possível. Existiria apenas uma necessidade de treinamento, tanto para quem está comercializando a cerveja, com detalhes como proibição para menores de idade, como para a equipe de segurança, para cuidar dos casos de excessos de consumo.