Convencer o fumante a largar o cigarro e o sedentário a andar foram os dois maiores fracassos que colecionei no curso de minha profissão. Em 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou um guia sobre atividade física e comportamento sedentário, com a recomendação de que pessoas adultas dediquem 150 a 300 minutos semanais à prática de atividade física moderada ou intensa.
Escrever guia é fácil, quero ver é convencer mulheres e homens a andar 30 minutos – ou pior, uma hora – cinco vezes por semana. Ao fazer esse tipo de prescrição, o médico deve se preparar para ouvir um rosário de lamentações, tantas são as atribulações diárias alegadas pela pessoa.
Na natureza, caríssima leitora, animais adultos só gastam energia em três situações: atrás de alimentos, no sexo ou para fugir de predadores. Com essas necessidades satisfeitas, evitam sair do lugar. Por isso, quando vem a ideia de praticar exercícios, desaba sobre nossos ombros o peso da preguiça sedimentada em milhões de anos de evolução.
Para uma organização como a OMS, recomendar 150 a 300 minutos semanais de atividade física é moleza, quero ver é motivar gente acostumada a ir de carro até a padaria da esquina criar coragem para levantar da cama ou do sofá, calçar tênis, vestir calção e sair para suar a camiseta.
Com essa introdução, pretendo defender que essas normas sejam modificadas, porque são utópicas e existe uma luz no fim do túnel.
E se eu disser que talvez bastem 15 a 20 minutos semanais de atividade física vigorosa para reduzir a mortalidade geral e as mortes por doença cardiovascular e câncer? Míseros 15 a 20 minutos por semana, até o mais vagabundo dos poucos leitores desta coluna consideraria razoável. Ou não?
O European Heart Journal acaba de publicar um estudo prospectivo conduzido no Reino Unido com 71.893 mulheres e homens de 55 a 68 anos (média 62,5 anos), acompanhados durante 5,9 anos, em média. A atividade física foi medida com um acelerômetro de pulso. Cerca de 80% dos participantes foram classificados como sedentários.
Simplificadamente, atividade vigorosa equivale a andar a passos rápidos (acima de 4 km/h a 5 km/h), correr, andar de bicicleta a velocidades acima de 16 km/h, jogar basquete, futebol, tênis individual, pular corda e subir escadas rapidamente.
Durante os 5,9 anos de acompanhamento a mortalidade geral e as mortes por câncer e por doença cardiovascular ficaram distribuídas da seguinte maneira:
- 4,17% entre os sedentários
- 2,12% nos que praticavam de zero a 10 minutos semanais
- 1,78% entre aqueles que praticavam entre 10 e 30 minutos semanais
- 1,47% nos que praticavam entre 30 e 60 minutos semanais
- 1,1% nos que praticavam mais de 60 minutos semanais
Houve relação inversa entre o volume de atividade vigorosa e a mortalidade geral, por doença cardiovascular ou câncer.
A prática considerada ideal, aquela associada à mortalidade mais baixa, foi a de 53 minutos semanais. É possível que outras mais prolongadas consigam um impacto que seja ainda maior, mas o número dos que as praticaram foi insuficiente para atingir a significância estatística.
Que desculpa você inventará agora, para não dedicar 15 a 20 minutos da sua semana para viver mais e melhor?
Naqueles que alternaram práticas moderadas e intensas, como andar e depois correr dois minutos, a mortalidade por doença cardiovascular caiu para 35%.
Você, leitor incrédulo, dirá que os resultados de um único estudo não podem ser generalizados. Tem razão, ninguém conhece esse princípio mais do que o ovo, ora acusado ora inocentado. Mas estudos recentes chegaram a resultados semelhantes.
Publicada no mesmo número da revista, uma pesquisa realizada com 88 mil ingleses chegou às mesmas conclusões. Entre elas, a de que andar sete minutos diários depressa reduz mais a mortalidade do que andar 14 minutos devagar.
Em 2011, um estudo publicado na revista The Lancet mostrou que a prática diária de exercícios vigorosos diminui a mortalidade geral. Resultados semelhantes foram publicados no Journal of the American College of Cardiology: correr cinco a 10 minutos por dia faz cair o número de mortes precoces, independentemente da causa.
Que desculpa você inventará agora, prezado leitor, para não dedicar 15 a 20 minutos da sua semana para viver mais e melhor? E se puder investir mais tempo, por que não?