O impacto gerado por um evento com a dimensão de uma maratona vai muito além do dia da prova. Para se ter uma ideia do que estou querendo dizer, vou recorrer ao que ocorreu em Porto Alegre no ano passado. Os mais de 16 mil corredores que participaram da maratona, grande parte de fora do Estado, representaram uma ocupação superior a 85% da rede hoteleira da capital gaúcha. Além disso, eles circularam pela cidade, movimentaram o comércio local, visitaram pontos turísticos e desfrutaram dos bares e restaurantes ao longo de, pelo menos, um final de semana.
É por isso que sempre digo: uma maratona não é só corrida. Há quem diga também que correr é uma desculpa para conhecer novos lugares e de viver momentos inesquecíveis.
Guardando as devidas proporções, uma das maiores provas do mundo, a Maratona de Boston de 2024, reuniu 30 mil corredores de 129 países diferentes. Isso representou um ganho econômico de 200 milhões de dólares, o maior salto do evento desde a pandemia. Estive em Boston, corri a prova, e foi incrível perceber, pelas ruas, como as pessoas abraçam o evento, recebem quem vem de fora e se envolvem antes, durante e depois da maratona. Quem vive lá já entendeu o que isso representa.
Voltando para a realidade local, o Sindicato de Hospedagem e Alimentação de Porto Alegre (Sindha) destaca que a corrida em em si é a cereja de um bolo que movimentará o turismo gaúcho. Conversei com o presidente do Sindha, Paulo Geremia, e ele ressaltou a importância que a prova terá no contexto de retomada após a enchente.
O Sindha também projeta que a grande maioria dos corredores que vêm de fora viaja acompanhada de familiares. Isso tem o poder de multiplicar a quantidade de turistas circulando na cidade.
A Maratona de Porto Alegre já é a segunda maior do Brasil. Supera a de São Paulo e perde apenas para a do Rio de Janeiro.
Mesmo assim, ainda vemos pessoas desconectadas da realidade e que ficam irritadas com alguns bloqueios de ruas e avenidas por onde passa o percurso em um domingo pela manhã. Há aqueles que buzinam e xingam quando estão presos em um cruzamento para a passagem dos corredores. Esses mesmos, se estivessem passeando em Boston, estariam aplaudindo enquanto observam o mesmo acontecer.
Ainda não podemos afirmar onde a capital gaúcha se colocará no futuro por conta desse mundo que me fascina há oito anos. O que posso dizer com certeza é que a prova já alcançou um tamanho que não permite mais que as pessoas, especialmente as que não correm, não saibam o que está ocorremdo e que a maratona representa.
Quero deixar claro que este texto não tem o objetivo de dar um puxão de orelha, muito menos afastar os que não correm do ambiente maravilhoso da corrida. É apenas um convite para que você continue buzinando quando passar por um cruzamento bloqueado, mas por outro motivo. Em vez de xingar, experimente dar um grito de apoio para quem está ali curtindo a nossa cidade, seja essa pessoa de fora ou não.
É um convite para que você faça parte da 39ª Maratona de Porto Alegre, mesmo que não esteja correndo ou nunca tenha pensado em correr. A maratona não é só corrida.