Só algo muito fora da curva tira do Grêmio de Renato o tri neste Gauchão da peste e da sobrevivência. Sim, houve quem defendesse o seu cancelamento, quanto nem treinar direito era permitido. Mas nada como um dia após o outro. A bola rolou na Província de São Pedro e as previsões superaram as expectativas de ajuda no combate à epidemia, via testagem.
Até agora, raros positivos e nenhum com sintomas. Uma vitória do bom senso e da ciência como guia. Todo o respeito do mundo ao Caxias, que mostrou competência e coragem no primeiro turno. Mas é que o mundo parece conspirar contra o time da Serra. É uma sucessão de azares.
Primeiro, a manutenção da final em dois jogos, quando se chegou a pensar em apenas um, o que aumentaria a chance. Depois, as finais jogadas para a frente. O Caxias está sem ritmo. Não joga uma partida oficial há 20 dias. A Série D começa em setembro. Perdeu peças como o camisa 9 Gilmar (lesionado), Da Silva (pertence ao Grêmio), Tilica (futebol grego) e Jean Carlo (volante/zagueiro, voltou para o Goiás).
O Grêmio só foi mal no segundo tempo contra o Vasco, apesar dos empates. Diante de Corinthians e Flamengo, foi bem. Diego Souza fará falta, mas responda rápido: quem tem mais condições de substituir o seu centroavante, Grêmio ou Caxias? Fosse qualquer outro esporte, eu cravaria Grêmio sem margem de erro. Mas é futebol, então é preciso respeitar os desígnios do nobre esporte bretão.
Conversei bastante com o técnico Rafael Lacerda, antes do segundo turno. Ele tem uma crença que pode ajudá-lo neste momento. O técnico do Caxias detesta vitimismo. Então o discurso dele com seus jogadores não será o da ladainha das dificuldades, mas como superá-las. Lacerda entende que reforçar o poder Gre-Nal tem efeito contrário.
É preciso acreditar de verdade que é possível. Colocar-se na posição do coitadinho trava músculos e mentes. Na final do turno, no mesmo Centenário palco do jogo de hoje, essa fortaleza mental funcionou. O time de Lacerda não ficou lá atrás, só se defendendo. Teve menos posse de bola, claro, mas sempre buscou o contra-ataque com organização.
Na volta do intervalo, especialmente quando Thiago Neves entrou no Grêmio, o Caxias veio para cima e fez o gol da vitória. Se tiver fôlego, presumo que Lacerda adotará a mesma estratégia — apesar dos desfalques. Não tem nada a perder. Final já é quase um título para o Interior, pela desigualdade financeira.