Quando participei do Grande Círculo, programa de entrevistas do SporTV estilo "Roda Vida", falamos também sobre filhos de ex-jogadores famosos que querem seguir carreira no futebol. Paulo César Tinga era o convidado. Ele explicou a decisão de sugerir ao filho que fosse para o São José-RS, e não Inter ou Grêmio.
— No Grêmio ou no Inter, ele seria o filho do Tinga. Joguei nos dois. Sempre ficaria aquela questão do mérito: não é por ser filho? Então ele foi começar a vida dele no São José, aos poucos, sem deixar de jogar na AABB, por exemplo — comentou o ex-jogador, que faz questão de não ser agente de seu filho.
Agora que Davis, 16 anos, está sendo emprestado pelo São José ao Inter por uma temporada, depois de ter gastado a bola em algumas partidas contra o próprio ex-clube do coração do pai. Liguei para o Tinga.
— Mas e aquela história do Grande Círculo, de ir com calma no São José? — brinquei com ele.
A resposta surpreendeu.
— E já está certo? Nem sei. Não quero me meter nisso. Quem vai lá assinar com ele, se tiver de assinar, é a minha mulher. É uma vitória toda dele. Não sei no que vai dar. Mas é claro que estou orgulhoso. Sou colorado. Qual é o pai colorado que não ficaria orgulhoso de ver o filho jogando no Inter? — admitiu Tinga, para em seguida completar:
— Mas o que me deixa feliz é o processo todo. Ele despertou interesse por meritocracia pura, pelo que fez enfrentando o Inter dentro de campo. É uma sensação boa ter educado bem um filho. O Davis soube o que fazer nos poucos minutos em que esteve campo, nessa última partida. Poderia ter entrado no segundo tempo e ficado lá na extrema, marcando o lateral, tudo certinho. Mas tomou a decisão correta de tentar o diferente.
Tinga se refere ao lance no jogo de ida da semifinal da Copa Seu Verardi, contra o Inter B. O jogo terminou em 5 a 1 para o São José. Davis entrou a 40 minutos do segundo tempo e, logo no primeiro lance, buscou uma diagonal para receber a bola no espaço vazio e dar assistência para Thayllon fechar o placar. Antes, no Estadual Sub-17 , havia feito gol de falta e de pênalti com cavadinha — de novo contra o Inter.
— Foi uma decisão tomada por ele. Se erra a cavadinha no CT de Alvorada, casa do Inter, o que iriam dizer? Mas teve a confiança dos treinos e tentou algo especial, com personalidade. Se quer ser um meia atacante diferente, tem de tentar o diferente na hora certa. Não a todo instante, mas na hora certa. Ele soube ler essa hora certa, contra o Inter. Tomou a decisão correta.
A temporada no Inter alterou os planos da família para Davis, que era jogar em Portugal aos 18 anos. A leitura tática do jovem já tinha despertado observação do Atlético-MG, onde trabalha James Freitas, ex-Grêmio. A ideia do Inter é observá-lo já no Sub-20, uma vez que vinha entrando no time principal do São José, treinado por Rafael Jacques.