Antes de abordar o futuro colorado imediato, é preciso dizer. Cobra-se de Odair Hellmann um Inter impossível, com nível de Manchester City, sem jogadores e peças de reposição para tanto, esquecendo os objetivos conquistados por um técnico de apenas 42 anos contra todos os prognósticos.
Quantos títulos os treinadores brasileiros hoje consagrados exibiam nessa idade? Que elencos tinham em mãos quando ergueram a primeira taça? Algum deles assumiu o comando técnico de um clube em frangalhos, anestesiado pela Série B, com as finanças destroçadas, às voltas com devassa do MP, tendo de montar time sem dinheiro para contratar, e mesmo assim classificando-se diretamente para a Libertadores?
Nada contra críticas. Vivo de fazê-las, inclusive sobre o Inter de Odair. A democracia é o regime da vaia. Aplauso único é na ditadura. Viva a vaia, portanto. Mas é inexplicável o tom das cobranças, especialmente nas redes sociais, após uma classificação antecipada e em primeiro lugar na Libertadores. É a nossa mania de só considerar bom resultado e bom trabalho se for campeão, condenando todo o resto ao desterro e sem analisar o contexto. Aquela ideia atrasada de que o vice é sempre o primeiro dos últimos. Enfim.
Feito o prólogo, vamos ao que entendo ser necessário melhorar no Inter, para ir o mais longe possível nesta temporada cheia.
Pela maneira como Odair defendeu a atuação de Sarrafiore contra o Alianza, fiquei com a sensação de que o argentino ganhará sequência. O fato de sua posição de partida ser o lado não o impede de habitar a faixa central. Ele e Nico López.
Na hora da transição, com a bola, vale a movimentação, inclusive vindo buscar jogo. Se os dois ficarem parados na linha lateral, contra um time todo retrancado atrás, é claro que danou-se. O espaço não se criará por abiogênese.
Sarrafiore pode e deve flutuar por dentro, abrindo caminho para Edenilson, só para ficar numa jogada possível. Quando tentou migrar para o 4-2-3-1, no começo do Gauchão, alinhando volantes, o Inter se defendeu mal. Tornou-se instável.
Daí a retomada da segurança do 4-1-4-1, com o tripé Rodrigo Dourado, Patrick e Edenilson, os dois últimos em função de meias. As vitórias voltaram assim. A classificação na Libertadores veio assim. O Gauchão escorreu pelos dedos, mas sem derrota nos Gre-Nais contra um time organizado, entrosado, experiente e com ótimos jogadores, que é o Grêmio.
São fatos.
Não é necessariamente obrigatório mudar o desenho tático para ampliar o repertório, e sim ajustar movimentos das peças. Não é decreto-lei. Há equipes criativas ou não nos mais variados sistemas.
É preciso encontrar o que melhor funciona na prática. Tanto isso é verdade que Tite foi campeão em Grêmio, Inter e Corinthians usando esquemas táticos diferentes, e jamais seus times deixaram de ser ofensivos.
As oitavas são pós-Copa América. Odair ganhou tempo para buscar alternativas de ataque, com o crédito de quem chegou à frente do River. Time algum está pronto em abril para ganhar um campeonato que termina em dezembro.