Antes dele, o cenário era aquele clássico, tantas vezes visto e repetido, inclusive em partidas de grife na Copa do Mundo da Rússia. Um time muito melhor, o Inter, exibia uma posse de bola absurda, perto de 70%, mas não conseguia transformá-la em troca de passes capaz de garantir vantagem numérica nos lances de ataque. É daí que nasce o espaço em progressão.
O outro time, um Ceará muito bem organizado na defesa pelo competente técnico Lisca, amarrava o Inter. Fechava linhas, dobrava marcação sobre Rossi e Nico López, quando estes ocupavam os lados. A Patrick e Edenílson, volantes de origem, faltava o passe diferente, aquele que muda o destino e penetra.
O cenário seguiu assim pelo lado do Inter, modorrento e previsível, embora Danilo Fernandes não tenha jamais sido ameaçado, o que indica a competência colorada para impedir contra-ataques do Ceará. O Inter não perderia, mas tinha de vencer para sonhar.
Então, fez-se a luz.
D'Alessandro entrou no lugar de Rossi, e depois Leandro Damião, no de Edenilson. Mas foi o capitão que mudou tudo. Dois ou três toques na bola, de cabeça erguida, foram suficientes para tirar o time do lugar comum. Um clarão de luz na noite fria e escura.
O gol parecia, agora sim, questão de tempo. Os jogadores do Ceará sabiam que os lances não seriam mais previsíveis perto da área. Já não arriscavam o bote sobre ele, temendo levar o giro, o drible ou fazer falta.
Antes, iam sempre confiantes: uma beliscada, um choque, uma marcação encurtada e pronto: a assistência morria. A jogada do 1 a 0 nasce do cérebro e da lucidez de D'Alessandro. Com um leve toque por cima, prevendo o uso correto de Damião e de Nico López, este vindo de trás, pelo meio, ele desenhou o gol de Pottker como se pintasse um quadro.
Todos estes estavam apagados no jogo (à exceção de Damião, que recém entrara), mas brilharam quando corretamente acionados por D'alessandro.
O Inter, iluminado pelo retorno de seu capitão, bem treinado por Odair Hellmann, quem diria, já é terceiro colocado no Brasileirão. Faz belíssima campanha, além do que seu próprio torcedor imaginava.
Há muita água para passar debaixo da ponte. O Brasileirão é quase interminável em suas 38 rodadas. Mas é fato: o Inter está escrevendo uma trajetória sólida no campeonato. E, o mais importante: praticando futebol organizado e de boa qualidade.