O anúncio oficial de Tite como técnico da Seleção Brasileira até a Copa de 2022 é uma quebra de paradigma no futebol brasileiro. A regra dos dirigentes da CBF, sempre regidos pelo império do resultado, é enxergar todas as virtudes do mundo quando ganha e descobrir erros em série quando perde.
A eliminação para a Bélgica, na Rússia, deflagrou uma onda de críticas que só nasceu quando terminou o jogo em Kazan. Isso mais no Brasil, vale dizer. E com menos ênfase do que o habitual, indicando um avanço interessante.
O mundo não interpretou a derrota brasileira nas quartas de final como fruto de desorganização tática, má qualidade técnica, estratégia errada, erros de escalação ou problemas na geração de jogadores.
Os números e episódios daquela partida seriam suficientes para garantir vaga nas semifinais como favorito: 26 finalizações, bolas na trave e Courtois, eleito o melhor goleiro do mundo, fazendo a atuação da carreira, conforme o próprio.
Convém não esquecer que Tite assumiu na emergência. As rachaduras do terremoto já rasgavam o chão. Ninguém mais respeitava a Seleção nem no próprio quintal. Os fiascos em Copa América se repetiam.
Nas Eliminatórias, até Peru e Equador colocavam as manguinhas de fora. No Exterior, as piadas do 7 a 1 sumiram. O Hexa não veio, mas a dignidade foi recuperada. Além do mais, há técnico brasileiro melhor do que Tite, inclusive para reconhecer os seus próprios erros e não repeti-los no Catar?
A renovação de Tite na Seleção pode ser um novo Tolima em sua vida. Eliminado na pré-Libertadores com o Corinthians, foi mantido no cargo, contrariando o padrão da cartolagem tupiniquim.
Na sequência, levou o clube a um patamar nunca experimentado: campeão do mundo. Agora, ao contrário de quando assumiu na emergência, Tite vai liderar um ciclo desde o início.
Terá de criar uma nova geração (a do 7 a 1 sairá inteira de cena) até 2022. O grupo do Catar exibirá poucos remanescentes da Rússia.
A responsabilidade é descomunal. As cobranças, naturalmente, serão muito maiores e mais pesadas do que foram até agora, quando o caráter emergencial lhe garantia álibi para quase tudo. Tenho certeza que ele tem consciência disso. Agora, ele terá o controle do processo desde o início, deflagrando um ciclo inteiro de Copa.