Admitamos, para efeito de raciocínio, que a direção do Grêmio estivesse insatisfeita com o trabalho de Valdir Espinosa. É um direito seu avaliar o desempenho de qualquer empregado, inclusive um campeão da América e do Mundo feito ele. Admitamos, ainda, que o salário fosse alto demais. Ainda assim, a demissão de Valdir Espinosa tinha de ter sido conduzida com mais inteligência e respeito.
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O técnico de 1983 não bateu na porta do Grêmio implorando emprego. A direção, em um momento de fragilidade, sem título há 15 anos, sem treinador após o pedido de demissão de Roger, foi buscá-lo para dar uma satisfação a torcida. Não importa se a sugestão partiu de Renato, uma sugestão acertada, já que produziu faixa. O fato é que, à época, alardeou-se aos quatro cantos que chegava "a dupla campeã do mundo": Renato + Espinosa.
A torcida amou. Encheu-se de orgulho. Lotou a Arena. O slogan ajudou na reeleição do presidente Romildo Bolzan. O cabo eleitoral demolidor, claro, foi a taça da Copa do Brasil. Mas, na hora ruim, antes do título, o nome de Espinosa serviu. Por tudo isso, um ídolo não poderia ter sido demitido como foi, restando tanta mágoa e tristeza.
Bastava aguardar alguns meses e encerrar a relação ao fim da temporada, quando os planejamentos são refeitos. Sem traumas. O ídolo seria preservado. A falta de habilidade para tratar do episódio ficou evidente na nota oficial, curta, protocolar e sem alma, comunicando o olho da rua de Espinosa como se fosse de um estagiário, e não do técnico campeão do mundo.
Com o time em alta, perto de mais títulos, o Grêmio criou uma crise gratuita, fruto da mais pura insensibilidade. Ficou feio.