Os assuntos da semana no futebol gaúcho têm um laço que os une, para além da camisa 10 às costas, mesmo posicionados em trincheiras opostas na eterna rivalidade da Província de São Pedro.
O joelho esquerdo de Douglas causou um justificado drama no Grêmio. O ligamento cruzado anterior rompido em um lance prosaico e acidental com Tilica mobilizou os gremistas sob vários ângulos: o drama pessoal do jogador, o futuro do time sem ele, o substituto, a necessidade ou não de contratar outro armador.
D'Alessandro centralizou o debate no Inter desde que, com o tripé de volantes a protegê-lo, o seu talento criador apareceu com mais clareza. Até onde esse modelo pavimentará o árduo caminho a ser trilhado são outros quinhentos, mas o fato é que, na amostragem ainda prematura diante do Fluminense, abriu-se ao menos um ponto de partida para o Inter.
Douglas e D'Alessandro passaram batido pela faixa dos 30 anos. Caminham para os 40. Douglas completa 35 agora em fevereiro, no dia 18. O argentino fará 36 daqui a dois meses, em 15 de abril. No ano passado, Douglas foi um dos recordistas em número de jogos pelo Grêmio. Terminou o ano fazendo o torcedor nem lembrar do adolescente Lincoln (18), cantado em prosa e versos como seu herdeiro imediato.
Imaginava-se, quando D'Alessandro foi para o River Plate, que se tratava apenas do epílogo de uma história iniciada justamente lá, em Nuñez. Mas ele cavou o seu lugar no time e voltou com faixa, a da Copa da Argentina, similar à nossa Copa do Brasil.
O que acontece com Douglas e D'Alessandro é uma tendência mundial. Antes, a faixa dos 30 anos balizava o prenúncio do fim da carreira de um atleta. O esporte, de modo geral, foi se tornando cada vez mais força. Normal, portanto, o corpo do atleta não suportar tanto tempo nesse ritmo tão intenso. Mas a ciência do esporte também evoluiu.
A parte física e médica ampliou as condições de prever lesões. E de curá-las, quando forem inevitáveis. Estes avanços (novos testes físicos, aparelhos de condicionamento, métodos de preparação, medicação e procedimentos clínicos) produziram o atual cenário – em todas as modalidades.
Roger Federer completará 36 em agosto com o troféu do Australian Open 2017 em casa. Ainda no tênis, em Melbourne, Serena Williams, 35, superou a irmã Venus, que faz 37 em junho.
O Eduardo Castilhos, especialista de NFL aqui de ZH, levanta o pescoço sobre o computador e lembra dos 39 anos de Tom Brady, o Pelé do futebol americano, cérebro de uma das maiores façanhas esportivas de todos os tempos com o New England Patriots, ao virar o Superbowl de 28 a 3 para 34 a 28, sobre o Atlanta Falcons.
O Rio-2016 viu a ginasta uzbeque Oksana Chusovitina pegar final no salto aos 41. Finalizou em 5º lugar. Michael Phelps alcançou os seus 28 ouros olímpicos aos 31, algo impensável na natação e seus curtos apogeus.
Repare que não se trata só de longevidade, mas de longevidade em altíssimo nível. Vale lembrar que só a bengala da ciência não adianta para ir além. É preciso uma carreira sem excessos.
Não mencionei o grande Zé Roberto, do Palmeiras, 42, por se tratar de clara exceção genética. Aquele ali, não duvido, vai aos 50 correndo mais do que os laterais da Copa São Paulo.
Refiro-me a um padrão. O conceito de veterano, no esporte, está mudando.
Os "velhos" não são mais aplaudidos apenas por competir. Agora eles competem e ganham. E nós, aqui na Província, temos dois exemplos que nos dão a sensação boa de estarmos conectados ao mundo: Douglas e D'Alessandro.
*ZHESPORTES