Não faz nem sentido eu ficar enumerando aqui conquistas e história incríveis deste personagem da história do futebol mundial, que nos deixou na manhã desta terça-feira, aos 72 anos. A vida de Carlos Alberto Torres, pela sua relevância, já foi virada do avesso. Já foi contada e recontada dezenas de vezes.
Então prefiro registrar um singela experiência que tive com ele. No final de 2014, participei lá no Rio de Janeiro de um Troca de Passes, o programa do SporTV que repercute a rodada. Um bate e volta, como a gente diz. Fui em um pé e voltei no outro, como sempre faço. Meu pai estava no hospital, em Porto Alegre, com o quadro estabilizado mesmo na CTI do Hospital Moinhos de Vento.
O pai era muito fã do Capita, que estava comigo na bancada do programa. Pedi ao comandante do Tri, enquanto acertávamos a roupa no camarim, uma foto para mostrar ao meu pai, quando ele se recuperasse. Um presente, esse era o meu objetivo. Quando o pai acordasse da inconsciência, planejava dar-lhe uma prova de que pensava nele noite e dia, e o Capita seria a prova.
Contei essa história ao Capita, que me abraçou e disse:
_ Mas é claro! Agora mais ainda!
Eu não tinha certeza de que o pai conseguiria escapar das consequências das lesões decorrentes de um acidente de carro. De fato, não conseguiu. Morreu sem ver a minha foto com o seu ídolo (tenho até de procurá-la, porque a tirei do telefone e guardei em algum lugar). Estava um tanto pessimista, e revelei este sentimento pouco antes do registro. Mas Carlos Alberto falou:
_ Dá um sorriso aí, pô! Vai dar tudo certo! O que tu pode fazer agora, trabalhando aqui, é isso: lembrar dele e tentar o que é possível. O possível é essa foto? Vamos fazer uma foto boa, pô!
Carlos Alberto mal me conhecia, é claro. Só de uma entrevista, de um programa, de uma visita dele ao RS. E olhe lá. Mas teve a preocupação de me confortar ali, naquele instante, sem nenhuma obrigação. Fiquei imaginando o que um homem com essa grandeza era capaz de fazer em um vestiário, com seus amigos. Ou antes de uma final. Ou na formação de um grupo vencedor. Na Copa de 1970, por exemplo. Por isso ele era o capitão dos capitães.
A grandeza de um grande líder se faz também em pequenos gestos anônimos, aqueles nos quais não há interesse algum envolvido a não ser ajudar e ser solidário. É o que aprendi com o Grande Capita, mesmo sem conviver com ele. Quando o carro do SporTV o deixou em casa, na Barra da Tijuca (na sequência me deixaria no hotel), ele ainda disse, gentilmente:
– Moro aqui. Passa um dia aí para um churrasco. Boa viagem. Vai com Deus.
O futebol mundial está menor, a partir desta terça-feira, 25 de outubro de 2016.