David Coimbra

David Coimbra

Colunista de ZH e GZH e comentarista da Rádio Gaúcha, teve 18 livros publicados. Prêmios: 10 ARI, Esso de Reportagem, Direitos Humanos, Habitasul de Literatura, Erico Verissimo de Literatura, Açorianos de Literatura, entre outros. David faleceu em 27 de maio de 2022 após 10 anos de luta contra o câncer. Suas crônicas seguirão disponíveis em GZH.

Cotidiano
Opinião

A música mais bonita do mundo

Por melhor que sejamos em algo, como música, literatura e artes plásticas, nunca somos o número 1. Somos imbatíveis, de fato, no futebol

David Coimbra

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Outro dia eu disse para o Potter que a canção mais bonita do mundo era The Long and Winding Road, dos Beatles. E não só disse como mandei para ele o vídeo da música no Youtube. Esse aqui: https://youtu.be/fR4HjTH_fTM 

Ele rebateu com My Way, cantada por Frank Sinatra neste outro vídeo: 

https://youtu.be/qQzdAsjWGPg 

Ouvi com atenção o clássico dos Velhos Olhos Azuis e, olha, tenho de admitir que pode ocupar o posto de Melhor Canção do Mundo. 

Será que alguma brasileira poderia disputar o título? 

A música brasileira é uma das melhores do mundo, mas tem alguma grandiosa o suficiente para enfrentar essas duas? 

Disparada, do Geraldo Vandré, quando interpretada por Jair Rodrigues, me dá essa sensação de que ali existe algo poderoso. Outra candidata é Casa no Campo, interpretada por Elis Regina ou Travessia, do Milton Nascimento, mas ainda não é o suficiente. 

Por que será que, mesmo tendo músicos geniais, não conseguimos atingir essa dimensão? 

Claro, você dirá que isso é questão de gosto, e eu vou concordar. É difícil estabelecer o que é arte boa ou ruim, talvez seja mesmo impossível. Você tem a tendência de condenar gêneros inteiros. Por exemplo: não gosto de música sertaneja, mas reconheço que Evidências, Nuvem de Lágrimas e Desculpe mas eu vou chorar são ótimas. Quer dizer: o problema não é o gênero, e sim a autoria. 

Além disso, tenho de admitir que não conheço bem esse estilo de música.  Alguns cantores, só vou me dar conta da existência deles quando eles morrem, e isso acontece amiúde, porque eles estão sempre viajando nessas estradas perigosas ou em aviões pequenos. 

Então, tudo em arte é relativo, certo, só que eu tenho a minha opinião e a minha opinião é de que, por melhor que sejamos em algo, como música, literatura e artes plásticas, nunca somos o número 1. Somos imbatíveis, de fato, no futebol

Sabe por quê? 

Porque o futebol brasileiro dá oportunidades a quem é bom. O menino que sabe jogar bola é mimado e moldado pelos clubes. Nos Estados Unidos é assim em quase tudo. Eles veem um guri com talento para música ou esportes ou ciência ou seja o que for, e lhe dão atenção especial. Ele terá professores e orientação até se destacar. 

Funciona. 

No Brasil, não. No Brasil é cada um por si. 

Talvez formássemos Beatles à mancheia, se fosse diferente. Talvez ganhássemos Prêmios Nobel a cada ano com nossos Einsteins, nossos Freuds, nossos Dostoievskis. Em vez disso, temos de nos contentar com grandes atacantes de lado. Quanto desperdício. 

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