Um homem foi engolido por uma baleia nos Estados Unidos, dias atrás. Aconteceu em Cape Cod, não longe de onde morei, em Massachusetts. Conheço Cape Cod. É um lugar muito bonito, cheio de praias agradáveis e de histórias da História. Foi lá, por exemplo, que chegou o navio Mayflower, com os pioneiros fundadores o país.
Esse homem que a baleia engoliu, ele é um pescador de lagostas. As lagostas daquela região são famosas. Em alguns restaurantes, há um aquário com lagostas nadando logo na entrada. Você pode ir ali e escolher uma para almoçar. Você aponta para a eleita e eles a tiram do aquário para jogá-la numa panela com água fervente. Depois, ela vem para a sua mesa, um bicho enorme, do tamanho de uma melancia, que você come com martelo e alicates. É uma delícia, a lagosta, mas tenho preguiça de usar todo aquele aparato para comer. Prefiro sanduíche de lagosta, que tem em toda parte.
Ou então... ah... só de lembrar, salivo. Vou contar para você: existe um restaurante italiano em Newton, que é uma cidadezinha próxima a Brookline, onde eu morava. Esse restaurante se chama Tartufo e serve um prato, “Lobster Arrabiatta”, que é massa tagliatelle com molho de lagosta. Oh, que saudades sinto do Lobster Arrabiatta! Jantar uma massa com molho de lagosta é realmente algo especial, meu amigo.
Pois esse homem mergulhava exatamente para buscar essas lagostas tão apreciadas na Nova Inglaterra. Ele já se encontrava a 15 metros de profundidade, quando sentiu uma pancada forte e desmaiou. Acordou dentro da boca de uma baleia e percebeu que ela estava tentando engoli-lo! Pensou: pronto, acabou, é assim que vou morrer, comido por uma baleia.
Mas, por algum motivo, a baleia não gostou da refeição, subiu à superfície e vomitou o homem a metros de distância. Ele voltou para casa meio zonzo e mancando de uma perna, mas aliviado. Vi sua foto na cama de um hospital: estava sorridente e parecia se sentir vitorioso.
É claro que me lembrei da história bíblica de Jonas, que desobedeceu a uma ordem do Senhor e, como punição, foi engolido por uma baleia. Como o homem de Cape Cod, ele foi vomitado, só que, antes, passou três dias e três noites dentro do bicho, rezando e prometendo a Deus que seria obediente dali em diante.
O grande Zé Rodrix compôs uma canção inspirada nessa lenda:
“Dentro da baleia mora mestre Jonas
Desde que completou a maioridade”.
É um tema fascinante: um homem, ainda vivo, repoltreando-se nas entranhas de um animal gigantesco.
Dois fatos me chamaram a atenção, tanto no mito bíblico quando na história atual. O primeiro é que o Profeta Jonas e o pescador de Cape Cod continuaram refletindo e tecendo considerações sobre o que fazer, mesmo estando naquela situação bizarra. Uma vitória da racionalidade.
O segundo é que a baleia os rejeitou. Como quando você bota na boca uma comida estragada e imediatamente a cospe fora, assim que lhe sente o gosto. A baleia, pura demais, imaculada demais, não quis comer o homem. Posso compreendê-la. Fosse eu uma baleia, também sentiria nojo de alguns representantes dessa confusa espécie do Homo Sapiens.