A Itália talvez seja o mais belo país do mundo. Não apenas por seus encantos naturais, mas pela ação do homem. A História com agá maiúsculo se derrama de cada porta, de cada janela despretensiosa que se vê.
Eu, a primeira vez em que fui à Itália, a todo instante me emocionava. Fiquei sem fôlego diante da imponência gótica do Duomo de Milão, fiquei embasbacado com a formosura da Fontana di Trevi e com a mágica do teto da Capela Sistina. Fiquei comovido com a perfeição do Moisés de Michelângelo.
Mas aquela viagem também foi ótima porque fazíamos mais do que turismo. Eu acompanhava, como repórter, uma delegação de empresários de Santa Catarina que queriam fazer negócios com os italianos. Então, visitávamos empresas, descobríamos novidades, conhecíamos pessoas.
Numa dessas visitas, os empresários italianos nos mostraram, cheios de entusiasmo, um projeto de reciclagem de plástico. Eles pegavam plásticos jogados no lixo e os transformavam em objetos que teriam nova utilidade. Nos levaram para o pátio da empresa e apontaram para a calçada:
— Isso seria muito bom para o Brasil!
Fui investigar o que era. A calçada havia sido feita com placas de plástico furadinho que se encaixavam umas nas outras. Tratava-se, de fato, de um calçamento barato e funcional. Mas aí ocorreu-me uma dúvida. Agachei-me, meti o indicador num dos buraquinhos de uma placa e a levantei.
— Não fica fixo no chão? — perguntei.
— Não. A ideia é ser só encaixado — respondeu o empresário italiano.
— Então não vai dar certo no Brasil — concluí.
— Por quê?
— Porque a turma vai levar isso embora.
Ele me encarou sem entender do que falava:
— Como assim?
_ No Brasil, eles vão pegar essas placas e levar para casa.
— Por que fariam isso?
— Ah... Porque é assim...
Os empresários brasileiros concordaram comigo:
— É, não vai dar certo, não vai dar certo...
E fomos ver outro setor da empresa, deixando o italiano perplexo.
Lembrei desse episódio por causa do General Mourão. Essa semana ele disse que o passaporte de vacinação não funcionaria no Brasil porque logo haveria comércio de passaportes falsos, venda nos camelôs, a maior esculhambação.
É triste, mas ele tem razão. O brasileiro, se puder, engana e ludibria para obter vantagem.
Por que isso?
Por que o brasileiro é desonesto por natureza?
Não!
Não tem nada a ver com a natureza; tem a ver com a cultura. No Brasil, nós investimos em fiscalização. Em outros países, eles investem em punição. Ou seja: no Brasil, se você for flagrado cometendo um ilícito, não haverá consequências. O que passa um recado claro para a população. Do tipo: “Não custa tentar”. Não custa mesmo. O indivíduo não paga o preço da ilegalidade que cometeu. Quem paga, e caro, é a sociedade. Estamos pagando. Pagaremos sempre.