Era meio óbvio, se é que existe "meio óbvio", que a Lava-Jato sofreria derrotas sérias como a desta segunda-feira, com a anulação das condenações de Lula pelo ministro Fachin, do STF. O establishment político foi atingido com muita dureza pela operação, a reação viria inevitavelmente, como veio na Itália, depois da "Mãos Limpas".
O que importa, agora, é saber o que na verdade significa essa decisão de Fachin para o Brasil, porque há muitas implicações profundas, muitas consequências que ainda serão sentidas.
A primeira delas, no clima político. Se o país já vivia tempos nervosos, imagine a partir de agora. A vitória de Lula reforça o discurso do bolsonarismo. A resposta-padrão a qualquer crítica ao presidente, “preferia o Lula?”, ganhou validade e cor. Ninguém mais pode argumentar “esqueçam o Lula” ou “esqueçam o PT” – Lula e o PT estão aí, justificando a ferocidade dos governistas.
O debate vai recrudescer, vai ficar mais amargo, as discussões nos grupos de WhatsApp serão intermináveis, mais amizades se romperão. Mas isso é só o começo, porque faltam quase dois anos para a eleição presidencial. Com Lula na disputa, Bolsonaro se agiganta. De certa forma, foi o que ocorreu em 2018, com o PT sustentando a possibilidade de Lula concorrer até o último momento, eletrizando o eleitor e arrastando parte da população para o lado do antipetismo raiz representado por Bolsonaro.
A provável candidatura de Lula é um doce para Bolsonaro. É tudo que ele queria.
Só que um terceiro personagem surge desse quadro: Sergio Moro. Com seu desastrado ingresso no governo, Moro enfraqueceu a Lava-Jato e minou seu próprio prestígio. Agora, ele reaparece como uma possibilidade política, como um contraponto aos outros dois radicais, Lula na esquerda e Bolsonaro na direita.
Isso é viável, por ironia, graças à decisão de Fachin. Porque a anulação das condenações de Lula se deu porque o ministro julgou que a Vara Federal de Curitiba não tinha competência para julgar esses processos. Assim, Moro saiu ileso desta confusão. Sua suspeição nos julgamentos, pedida pela defesa de Lula, não foi analisada. Seria, e pelo ressentido Gilmar Mendes, mas agora esse pleito perdeu sua motivação – as condenações já foram anuladas.
Não foi à toa que o presidente da Câmara, Arthur Lira, escreveu no Twitter:
"Minha maior dúvida é se a decisão monocrática foi para absolver Lula ou Moro. Lula pode até merecer absolvição. Moro, jamais"...
Em resumo, a classe política está se lixando para Lula, Lula é um deles. A preocupação é Sergio Moro, é a vendeta pelo pavor que eles sentiram enquanto a Lava-Jato esteve forte e o braço da lei ameaçava alcançá-los.
Sergio Moro, portanto, tem saída, se quiser se manter como um personagem de primeiro plano da política nacional. Mas, para enveredar por essa saída, terá de enfrentar a oposição de Lula e Bolsonaro. Será preciso coragem. E estômago forte.