Quem inventou a palavra “Gre-Nal”? Foi uma ótima ideia, o termo pegou e se consagrou. Já se tornou substantivo. Eu, inclusive, escreveria sem hífen, “Grenal”. Há até quem o empregue como adjetivo. Tipo: “A vida não é um Grenal”. Com o que, a propósito, discordo: a vida É um Grenal.
Mas volto a questionar: quem inventou a palavra Grenal? Saí a campo para tentar encontrar essa resposta quando eu e o Nico Noronha estávamos escrevendo o livro “A História dos Grenais”, há quase 30 anos
Encontrei.
Foi um antigo jornalista chamado Ivo dos Santos Martins. Entrevistei-o em seu apartamento em Porto Alegre e ele me contou que, nos anos 20, incomodava-se sempre que tinha de escrever sobre o clássico, porque precisava colocar os nomes dos dois clubes no título, Grêmio e Internacional. Ocupava muito espaço.
Ivo, que era gremista, expôs esse problema no local onde os problemas devem ser expostos: numa mesa de bar. No caso, o Café Colombo, no centro da cidade. Com ele estavam dois amigos também gremistas, Armando Siaglia e Luiz Daudt. Era a noite de sexta-feira, 25 de junho de 1926. Dois dias depois seria jogado o primeiro clássico do ano, na Chácara dos Eucaliptos.
Eles ficaram debatendo como deveria ser designado o jogo. A primeira ideia que apareceu foi a óbvia “Inter-Gre”, mas como todos ali eram gremistas, decidiram que o Inter não ficaria na frente. Só que “Gre-Inter” não era sonoro. Foi aí que Ivo perguntou: “Por que não juntar a primeira sílaba do Grêmio com a última do Inter?”
Eureka!
Fiat lux!
Surgiu o Grenal.
Aquele primeiro Grenal foi vencido pelo Grêmio por 4 a 1, gols de Luiz Carvalho, “o rei da virada”, e Esperança, mais dois de Corô, descontando Barros para o Inter.
O Grêmio tinha mesmo uma equipe superior, pode-se dizer que foi o primeiro supertime do Estado. E, no gol do supertime, um supergoleiro: Eurico Lara.
É sobre Lara que quero escrever.
Ocorre que, na segunda-feira, o primeiro jogo de Lara pelo Grêmio completará 100 anos. A RBS TV preparou uma matéria especial a respeito, sairá no Jornal do Almoço.
Em geral, as pessoas de hoje não dão mais muita importância para um personagem que viveu em um passado tão remoto. Mas tem importância, sim. Lara é um daqueles heróis que se tornam lendários, suas façanhas reais se misturam com imaginárias. É o único jogador citado em um hino de um grande clube brasileiro. “Lara, o craque imortal, soube o teu nome elevar”, escreveu Lupicínio Rodrigues. Queria ter entrevistado esse craque imortal. Como não o fiz, entrevistei quem o fez: o mesmo Ivo dos Santos Martins, o inventor da palavra Grenal.
No final dos anos 20, Ivo estava prestes a abandonar a carreira de jornalista para se transformar em promotor. Antes disso, fez uma longa entrevista com Lara. A entrevista nunca foi publicada, até que Ivo me relatou seu conteúdo, nos anos 90. Vi, então, que a história de Lara corresponde ao mito que se criou em torno dele. Hoje, mais do que nunca, é preciso saber quem ele foi. Porque ele foi um exemplo. Mas só vou contar por que amanhã.