Seu Romeu, pai do meu amigo Felipe Vieira, morreu de amor. Aconteceu semanas atrás. Seu Romeu e dona Ilda, mãe do Felipe, viviam juntos havia 68 anos. Ela morreu, e ele resistiu sozinho por apenas 37 dias. Foi-se como um passarinho que vai se apagando devagar depois de perder a companheira.
Os brasileiros têm medo da violência? Os brasileiros querem salvar o Brasil? Salvem, antes, os meninos do Brasil. Cuidem deles.
Ontem, o Felipe entrevistou-me sobre meu livro Hoje Eu Venci o Câncer. Foi uma conversa alentada, falamos de muitas coisas. A folhas tantas, contei que eu, a Marcinha e o Bernardo nos tornamos mais unidos e mais próximos depois de nos mudarmos para os Estados Unidos, e que isso foi decisivo para que continuasse vivo e bem. O Felipe, então, comentou algo de passagem acerca dos seus pais, e, neste momento, vi que uma lágrima se formava no canto do seu olho direito. Ele bem que tentou se manter rigidamente profissional, não mudou o rumo da conversa, prosseguiu com o tom leve da entrevista, mas seu rosto, aos poucos, tornou-se molhado de emoção. Aí eu é que fiz questão de lembrar da história do seu Romeu e da dona Ilda, uma história que até pode ser triste, mas também é muito bonita.
Nos minutos que se passaram enquanto estávamos ali, sentados no sofá, diante das câmeras, eu respondia às perguntas e pensava que o Felipe é, mais do que tudo, uma boa pessoa. E que a maior prova disso é que ele tenta sempre ver o lado bom das outras pessoas.
Não havia como ser diferente.
As pessoas só podem dar o que têm. Ou seja: elas só podem dar o que um dia receberam. Meninos criados em meio a abusos e a violência se tornarão abusadores e violentos. Se você quiser saber qual é a origem dos crimes cruéis cometidos no Brasil, investigue como vivem os meninos do Brasil. São meninos que crescem sem nem conhecer o pai. Ou, se conhecem, não raro é pior: o pai é drogado, bêbado, brutal.
Os brasileiros têm medo da violência? Os brasileiros querem salvar o Brasil? Salvem, antes, os meninos do Brasil. Cuidem deles. Porque quem foi criado em uma família que vive de amor, com pais que são capazes até de morrer de amor, passará a vida dando amor.
O que falta ao Grêmio
O jogo contra o Flamengo mostrou como o Grêmio está próximo de fazer história. Ou de não ganhar coisa alguma e desaparecer na história. Porque essa equipe, montada pela competência de Romildo Bolzan e de Renato, já é muito boa e já teve as suas conquistas, mas pode se alçar aos píncaros dos supertimes do Brasil. Não falo de ótimos times, falos dos que estão empoleirados no Olimpo do futebol: o Santos de Pelé, o Botafogo de Garrincha, o Cruzeiro de Tostão, o Palmeiras de Ademir da Guia, o Inter de Falcão, o Flamengo de Zico.
Para chegar a esse nível, o Grêmio precisa fazer alguns rebocos no time: precisa de dois laterais de excelência, precisa talvez encostar um dos jovens, Mateusinho ou Jean Pyerre, ao lado de Maicon, e precisa, com urgência urgentíssima, de um centroavante.
Falta quase nada. Mas quase nada, às vezes, é imprescindível para se ter tudo.