Não vá atrás desses chatolas metidos a contestadores iconoclastas. Se você comemorou o Dia do Gaúcho, nesta quarta-feira, fez muito bem. Porque a Guerra dos Farrapos foi, sim, mil vezes sim, muitíssimo importante para o Rio Grande do Sul.
Digo mais: o Rio Grande do Sul é o que é graças à Guerra dos Farrapos.
Ou foi o que foi, porque talvez não seja mais. Ou talvez não seja tanto.
É verdade que, já quase no desfecho da Guerra dos Farrapos, houve a canalhice do Massacre de Porongos, a traição que vitimou centenas de bravos lanceiros negros.
É verdade, também, que Bento Gonçalves manteve escravos cativos até morrer. Quase metade do valor de sua herança se constituía em patrimônio vivo, homens e mulheres legados aos seus descendentes como se fossem gado.
E é verdade, por fim, que a guerra começou devido à revolta dos estancieiros com injustiças fiscais, e não por nobres razões separatistas.
Mas também é verdade que muitos dos revoltosos, como o General Neto, queriam proclamar a República (e proclamaram) e queriam abolir a escravidão (e aboliram). Neto era idealista, era um abolicionista radical. Ao término do conflito, mudou-se para o Uruguai e levou com ele os negros que lutaram na guerra. Eles o acompanharam por vontade própria e lá viveram em liberdade.
Outra: quando os detratores dizem que os republicanos perderam a guerra para o então Barão de Caxias, esquecem-se de que as reivindicações feitas pelos estancieiros no começo da rebelião foram atendidas. Quer dizer: de certa forma, o movimento foi bem-sucedido.
Depois dos Farrapos, o Rio Grande do Sul deixou de ser um território ermo, esquecido pela União, considerado útil apenas quando havia necessidade de defesa das fronteiras.
Trace uma linha histórica: o crescimento do Rio Grande do Sul se deu, exatamente, a partir de 1845. O Império passou a se importar com a província e tomou medidas para povoá-la e desenvolvê-la. Em cinco anos, 10 mil imigrantes alemães chegaram ao Rio Grande do Sul. Nos anos seguintes, mais 10 mil. Em seguida, italianos e judeus. Foram feitos investimentos nas principais cidades, sobretudo em Porto alegre. No princípio do século 20, o Rio Grande já era a terceira potência brasileira.
A decadência se deu a partir de meados dos anos 1980. Ali terminou a Revolução Farroupilha. O que aconteceu naquela época? O que vem acontecendo desde então? Grandes empresas fecharam, o Estado empobreceu, deixou de ser o mais alfabetizado e o mais educado do Brasil, e cada projeto, cada ideia, cada tentativa de se fazer algo pela coletividade encontra oposição feroz.
O que houve?
A democracia fez mal ao Rio Grande do Sul?
Precisamos descobrir o que se abateu sobre nós. E reagir. É chegada a hora da nova revolução!