Vou contar sobre dois diálogos que tive semana passada. O primeiro, com meu filho. O outro, com o Reinaldo Azevedo.
Agora, no sábado, meu filho perguntou o que é comunismo. Tentei explicar de forma compreensível para um menino de nove anos de idade: comunismo é um sistema em que o governo dá às pessoas tudo de que elas precisam. Elas não pagam por casa, escola ou médico. Todas trabalham e têm as mesmas coisas.
– Mas essa é uma boa ideia! – ele concluiu.
Concordei:
– É ótima. Pena que não funciona.
Ele ficou decepcionado.
– E por que não?
– Porque é um sistema em que tudo é muito igual, e as pessoas são todas muito diferentes. Na tua aula não tem alunos que reclamam que fazem bem as tarefas, mas a professora trata melhor outro que não faz tão bem?
– Ah! A Zoe é assim!
– Pois é. Se alguém trabalha mais e melhor, quer mais recompensa por isso. E se irrita se outra pessoa, que não sabe trabalhar tão bem, ganha o mesmo. Além disso, o ser humano inventa muitas coisas pra ganhar com isso. Se ele não tiver como ganhar, não vai inventar. O comunismo seria perfeito se as pessoas fossem perfeitas.
Ele ficou pensando.
Enquanto pensava, lembrei da entrevista que fizemos com o jornalista Reinaldo Azevedo dias antes, no Timeline, da Gaúcha. Reinaldo apregoou com veemência sua crença no liberalismo.
– Eu privatizaria tudo! – bradou. – Tudo! Petrobras, tudo!
Talvez fosse até bom para o Brasil ser comandado por algum tempo por liberais assim convictos, mas sei que, se mantido, esse liberalismo radical fracassaria pela mesma razão do fracasso inexorável do comunismo: a imperfeição do ser humano. Se o Estado não exercer vigilância severa em certas instâncias, os mais fortes inevitavelmente amassarão os mais fracos sem piedade.
Sabedor disso, questiono: por que você tem de se aferrar a uma única fórmula, se pode ter a chance de usar a que quiser, quando quiser? Não é a força a chave da evolução, é a flexibilidade. Assim, você pode dosar. Ora, entrega-se mais poder ao Estado, a fim de controlar um mercado que se tornou ganancioso demais; ora, dá-se mais liberdade ao mercado para gerar desenvolvimento e aliviar a pressão de um Estado que se tornou opressivo.
Flexibilidade é a palavra.
O dogma é emburrecedor, e não apenas na economia. Não acredito na funcionalidade ou na inteligência de nenhum dogma. Nenhum. Virou "ismo", estou fora. Acredito no indivíduo com consciência de vida comunitária. No homem que preza sua liberdade, mas cumpre o pacto social. Naquele que defende sua privacidade ao respeitar a privacidade do outro. Não o individualismo, que aí é outro "ismo": o indivíduo.
Já o idealista é um chato categoria "insuportável", porque é um chato que anda com um arrazoado debaixo do braço para justificar sua chatice.
Mas até entendo o sujeito encontrar uma razão para a sua vida através de uma ideia, que, afinal, é abstrata e, por isso mesmo, mais elevada. Agora, achar uma razão de viver na defesa incondicional de uma pessoa, de um político, de alguém que o "idealista" às vezes nem conhece pessoalmente?
Por favor...
Além de demonstrar pobreza intelectual, isso é muito arriscado. Porque, como disse para o meu filho, as pessoas, definitivamente, não são perfeitas.