Tempos atrás, Renan Calheiros avisou que não se submeteria a um "juizeco de primeira instância". Os juízes da mais alta instância do Brasil, ministros do Supremo, com todo o seu latinório e cãs venerandas, reagiram de dedo em riste. A presidente do STF, Cármen Lúcia, chegou a advertir que quem mexia com um juiz mexia com ela também.
Hitler já dizia: palavras o vento leva, papéis o fogo queima.
Tudo não passava de bazófia.
Porque, na hora em que eles tiveram de enfrentar Renan cara a cara, olho no olho, no que Renan os transformou? Em juizecos de última instância, talvez?
Não, eu não diria isso. Se dissesse isso, é possível que algum juiz me punisse.
Ou será que não?
Não terá Renan criado um padrão? Ele não cumpriu a ordem de um ministro da mais alta corte do país. Disse que não cumpriria, e não cumpriu. No dia seguinte, não foi penalizado pela desobediência; foi premiado: continua sobranceiro no cargo.
Cunha, que era tão réu quanto ele, primeiro foi afastado da presidência da Câmara, depois teve o mandato cassado e, por fim, jogaram-no na cadeia. Hoje faz suas necessidades diárias em um boi cavado no chão de uma cela da Polícia Federal. As pessoas o odeiam. "Fora, Cunha!", gritavam nas ruas. Não passa de um pobre coitado.
Cunha deve estar pensando aquilo que eu, você e todos os brasileiros pensamos. O seguinte: se Renan pode descumprir a ordem de um juiz do STF, por que Cunha, eu, você, o traficante da Vila Cruzeiro, o empresário, o funcionário público, a prostituta e o delegado, por que nós temos de obedecer?
Se um juiz o convocar para seja lá o que for, por que você não pode alegar algo procedente como:
– Não vai dar, vou ter que passear com meu cachorro.
Ou:
– Não vai dar, tenho hora marcada no dentista.
Ou:
– Não vai dar, porque não quero.
Por que não?
A Justiça tem de ser igual para todos. Deixem a mulher do Cabral com as joias que ganhou, deixem o Lula com o sítio dele, deixem o Cunha jantar em Paris. Renan disse. Renan liberou. O grito geral da nação é aquele que, na verdade, sempre foi: ninguém é de ninguém!