Errei, sim. Reconheço que errei, e nesta quarta, no Timeline, até cantei esta música que Ataulfo Alves compôs para Dalva de Oliveira espicaçar Herivelto Martins. A letra é um primor. A mulher trai o homem e bota a culpa nele, como sempre fazem as mulheres que traem os homens:
"Errei, sim
Manchei o teu nome
Mas foste tu mesmo o culpado".
Eu, como Dalva, errei, sim, mas foram vocês mesmos os culpados, que ficavam me perguntando quem ia vencer a eleição americana, quem, quem, quem, aí resolvi acreditar nos institutos de pesquisa, disse que Trump "quase iria ganhar", e quem quase acertou fui eu.
Mas, a meu favor, lembro que expliquei, na mesma coluna, os motivos do sucesso de Trump: a reação ao politicamente correto e a tendência americana à renovação. Os americanos queriam votar nos republicanos. Votaram.
Somo a esses dois fatores um outro: a sedução do populismo.
O populismo tem diversas faces, mas é igual em toda parte. Ele sempre propõe soluções fáceis para problemas difíceis. Esse é o conteúdo. A forma muda de acordo com o público.
Que tipo de populista agradaria aos alemães depois do revés na I Guerra Mundial? Obviamente, um que fosse um soldado condecorado por bravura, marchasse em passo de ganso, prometesse glórias militares e colocasse a culpa da derrota em estrangeiros radicados no país.
Que tipo de populista agrada aos americanos que elegeram Trump? Olhe o mapa da votação. As bordas, banhadas pelo Atlântico e pelo Pacífico, estão pintadas com o azul dos democratas. O miolo está pintado com o vermelho dos republicanos. O habitante desse interior vermelho, que vive longe das amenidades do litoral, é o desbravador, é o que enfrentou os índios, o deserto, as montanhas, a neve congelante e o calor abrasador, ele carrega a sua pistola no console do carro, come bacon com ovos no café da manhã e acredita em Deus e no trabalho duro. É para ele que foram criados Batman, Superman, Rocky Balboa, Chuck Norris, John Wayne.
E Trump.
Trump é o populista modelo americano, que promete matar todos os terroristas do Estado Islâmico, expulsar todos os traficantes para o lado de lá do Rio Grande e promover a prosperidade, que é a vocação da terra dos bravos e dos livres.
Um discurso simples e direto. E funcional.
Já o tipo de populista brasileiro nunca foi esse da bravata, da grandiloquência, da faca de caça na cintura e do rosto pintado para a guerra. Sempre foi o pai dos pobres benfazejo, o homem bom e comum que estende a mão para a plebe ignara. Getúlio, Jango, Jânio, Lula e os militares foram os nossos populistas, todos muito parecidos, todos nacionalistas, desenvolvimentistas e assistencialistas. Não acredito que um populista belicoso, estilo Trump, como é Bolsonaro, teria chance numa eleição no Brasil. Nossos populistas são de outra cepa. Mas... bem, eu errei na previsão sobre a eleição americana, sabe-se lá.
Ah, aliás, também previ que o Inter não vai cair para a segunda divisão.