O governo quer acabar com as aulas de artes na escola, o que tem causado grande comoção na sociedade brasileira.
Tive aula de artes. Chamava-se educação artística. Não era uma disciplina que levava a sério, confesso, pejado. Classificava educação artística no nicho de moral e cívica, religião e OSPB. Quer dizer: uma chatice. Só ia para não rodar por ausência.
Agora, ao pensar no assunto, seguro o queixo com o polegar e o indicador, olho para o céu da Nova Inglaterra e me pergunto: será que mesmo os professores levavam a matéria a sério? Eles entravam na sala e davam argila para a gente fazer... coisas. Terá algum de meus colegas se revelado um Michelângelo tropical graças às aulas de artes?
Vai saber...
De toda forma, vendo hoje tantas pessoas a protestar que a educação de nossas crianças será destruída com a supressão das aulas de artes, sinto-me culpado retroativamente por ter desprezado a educação artística.
Igual com a sociologia. É tão bonito ouvir um sociólogo falando... O que mais gosto é de quando os sociólogos criticam a sociedade hipócrita e tentam mexer com nosso espírito entorpecido pelo consumo e pelos valores midiáticos. Basta que eles comecem a falar e já sinto o meu espírito entorpecido se mexendo todo. Se tivesse levado mais em consideração as aulas de sociologia, hoje escreveria belezuras como "conceitos heurísticos" ou "empoderamento".
Perdi oportunidades na vida, essa é a verdade.
O fato de não ter dado bola a disciplinas tão preciosas me faz pensar que a discussão sobre o currículo das escolas é quase irrelevante.
Fico pensando que o que realmente é importante são boas escolas e professores bem remunerados e bem preparados, com tempo para estudar e organizar seu trabalho, mas que também sejam cobrados pelo que fazem e pelo que não fazem. Fico pensando que esse debate é superficial e que ter ou não artes no currículo só faria diferença se houvesse ótimos professores de artes, ensinando em escolas com ótima estrutura para as aulas de artes. Fico pensando isso. Mas posso estar errado. Posso ter ficado com o espírito não apenas entorpecido, mas também embrutecido pelo desdém que senti pelas aulas de artes. Vai saber...
Para que serve o azulzinho
Se o Google não me iludiu, e o Google é como uma mulher, que ilude e negaceia, mas se desta vez não me iludiu, a EPTC tem 1.117 funcionários.
Toda essa gente, claro, não fica apenas cuidando do trânsito. A EPTC cumpre várias funções, que sei.
Mas nem todas as cidades do mundo contam com órgãos similares à EPTC. Aqui onde moro, por exemplo, quem controla o trânsito é a polícia.
O policial fica na esquina, observando o tráfego. De repente, se acha que as pessoas estão tempo demais na calçada, esperando para atravessar a rua, ele simplesmente invade o leito por onde passam os carros, ergue um braço e manda todo mundo parar. Todo mundo para sem reclamar. É ele quem decide. Faz parte de sua autoridade.
Outro dia, vi um parar um carro. O motorista tinha feito algo errado, não sei o que foi. Sei que o policial passou-lhe uma descompostura tão feroz, que deixou a mim envergonhado, eu, que estava só assistindo. O cidadão reagiu com humildade. Baixou a cabeça, disse "yes, officer" e foi-se embora ganindo baixo. Os policiais são respeitados – se alguém os confronta, eles o derrubam, põem o pé em seu pescoço, algemam-no e o levam preso.
Esse policial que está vigiando o trânsito vigia também as ruas, as pessoas e o comércio. Se alguém quiser fazer algo errado, não fará perto desse policial. Talvez fizesse, se em seu lugar houvesse um agente de trânsito.
Então, pergunto:
Será que Porto Alegre não seria uma cidade mais segura se os mais de mil funcionários da EPTC trabalhassem na Brigada Militar?
Será que os candidatos a prefeito de Porto Alegre não poderiam pelo menos cogitar essa possibilidade?
O que você prefere ter diante da sua casa: um azulzinho ou um PM?
Responda, por favor.