Convescotes americanos não são como convescotes brasileiros. Definitivamente, não.
Americano não é bom em fazer festa.
Aniversário de criança. Se o tempo está bom, muitos americanos gostam de fazer a festinha nos parques. Compram balões, balas, hot dogs e alguns litros de limonada, e pronto. Gastam uns US$ 200.
Se um americano vai receber amigos em sua casa para um jantar, uma comemoração qualquer, ele avisa no convite por e-mail o horário de começo e de término do encontro. Na hora marcada, é tchau, tchau, muito obrigado, até qualquer dia, see you later, alligator.
Meu vizinho Jim, que havia nos convidado para um churrasco, não mandou e-mail, mas perguntou se, três dias antes, ele podia ir à nossa casa para falar sobre o menu.
Menu? Não era churrasco?
Mas, tudo bem, claro que ele podia nos visitar. E, três dias antes, na hora aprazada, Jim chegou. Entrou, acomodou-se na ponta do sofá e fez um breve questionário:
– Carne de gado, peixe ou galinha?
– Vocês têm alguma alergia?
– Restrições culturais?
– Preferem carne kosher?
– Refrigerantes ou bebidas de álcool?
– O Bernardo pode comer doces?
Respondi e, em cinco minutos, ele se despediu.
No dia do churrasco, chegamos pontualmente ao apartamento. Encontramos a porta entreaberta. Será que deveríamos ir entrando? Por precaução, dei umas batidinhas. Ele gritou de lá:
– Entrem!
Entramos.
Chegamos a uma sala ampla, escura, com poucos móveis. As paredes estavam totalmente cobertas por fotos de uma só pessoa: Bob Dylan. Não havia um palmo de parede vazio. Tudo tapado com quadros do Bob Dylan. Numa estante, discos, CDs e... fitas cassete.
– Fitas cassete! – exclamei. Jim explicou que prefere as fitas para ouvir música enquanto caminha, porque são mais fáceis de carregar.
Não são mais fáceis de carregar, pensei, mas deixei para lá.
Reparei que a camiseta que Jim vestia era decorada com uma foto de... Bob Dylan. Ele contou que já foi a mais de 150 shows do Bob Dylan. Tive vontade de perguntar:
– Você gosta do Bob Dylan?
Mas também deixei para lá. Talvez ele não entendesse a brincadeira.
O Bernardo, vendo aquilo, contou que na escola ele aprendeu a cantar uma música do Bob Dylan. Jim quis saber qual. O Bernardo cantarolou, timidamente:
– How many roads must a man walk down...
E o Jim se juntou a ele:
– The answer, my friend...
Contei-lhe que um senador brasileiro havia cantado essa música da tribuna, e ele ficou encantado. Ponto para o Brasil.
Fomos para o churrasco propriamente dito. Sentamos na varandinha, e Jim manejou sua pequena grelha. Em 20 minutos, assou três bifes e três cogumelos do tamanho de um pires. O Bernardo e a Marcinha regalaram-se com os cogumelos. Eu, não. Cogumelo tem gosto de hóstia.
Jim falou bastante. Falou dos Estados Unidos. Falou do pouco que sabe sobre o Brasil. Disse-lhe que no meu Estado temos churrasqueiras nas paredes das casas, e ele achou aquilo extraordinário:
– Na parede?...
Perguntei-lhe se ainda viaja muito para ir aos concertos, e ele, então, olhou para o céu muito azul e divagou:
– Quando jovem, viajava... Agora, quero ficar. No verão, faço meus churrascos. No inverno, vou ali para dentro – apontou para a sala –, leio, vejo jogos na TV e ouço música. Espero o verão voltar. O verão volta, e eu venho para a minha varanda. Gosto disso. Gosto dos meus dias.
E sorriu. Sorrimos também.
Nesse momento, Jim se levantou.
– Tenho coisas a fazer – comunicou, gentilmente.
Fomos embora. A coisa toda não durou duas horas. Churrascos americanos são assim. Tudo bem, saímos leves. É reconfortante o espetáculo de um homem satisfeito com a própria vida.