A inesquecível noite dos 600 chopes deu-se em 8 de janeiro de 1998. Foi tão inesquecível que lembro a data exata. E tenho certeza dela, porque era aniversário do Professor Juninho, e ele sempre faz aniversário em 8 de janeiro.
Os primeiros a chegar ao Lilliput fomos nós quatro, os habituais pioneiros: eu, o meu irmão Régis, o Degô e o homenageado. Planejávamos uma noite calma. Uns chopinhos gelados, cremosos e dourados, um "David Coimbra"... Ah, sim, sacripantas, ah, sim, beleguins, ah, sim, biltres, o degas aqui tinha um prato com seu nome no cardápio. Um humilde sanduíche aberto, mas estava lá, imortalizado em papel. Algum de vocês já deu o nome a alguma comida, tipo, sei lá, "Massa Com Salsicha Admar Barreto"?
Claro que não.
Bem.
Então, lá estávamos nós, despretensiosamente comemorando o aniversário do nosso amigo, e outros amigos começaram a chegar. E outros e outros e mais outros. Em 1998, nem todas as pessoas portavam celulares e as que portavam não tinham aparelhos capazes de tirar fotos e fazer filmes. Aqueles celulares eram apenas telefones sem fio, falavam e ouviam, prudentemente. Assim, alguns hoje lamentam, mas muitos mais festejam o fato de não haver imagens que mostrem um pedaço do que aconteceu.
Porque aconteceu.
As pessoas chegavam, saíam e voltavam. A mesa ia crescendo e tomando novas formas: mais comprida, quadrada, em L,
sem mesas. Havia muita gente em pé mesmo, com copos de chope na mão. Uns começaram a cantar. Um casal se fazia numa ponta, outro se desfazia na outra. Alguns dançavam. Lá pelas 4h da madrugada, lembro que o Urbim abraçou o Juninho e pulou com ele, gritando:
- Juninho! Juninho!
Em um segundo, dois, quatro, oito, dezesseis abraçaram o Juninho e o Urbim, gritando:
- Juninho! Juninho!
Um grupo de farmacêuticas de Santo Augusto, que a tudo observava de um canto, juntou-se a nós. Nunca pensei que farmacêuticas de Santo Augusto pudessem ser tão animadas. O Ricardo Carle citava Nietzsche numa conversa séria com o Cyro, que não parecia mais tão sério. A Renatinha latia que nem um chiuaua, assustando os distraídos. O Diogo era um dos distraídos e, com o susto, deixava cair o quarto copo de cristal, para desespero do Atílio, o gerente do bar. A Mari B e a Cris faziam espacate na calçada. O Felipe chegou fumando charuto e elogiando os espacates. A Mari S e a Paola cantavam em inglês.
De alguma forma, a notícia da festa se espalhou pela cidade, e as pessoas mais improváveis foram se juntando a nós. Vez em quando, um grupo abraçava o Juninho e o Urbim, pulando e gritando:
- Juninho! Juninho!
Não posso contar tudo, causaria separações e destruiria reputações. Conto que fomos embora pela manhã. Os 600 chopes foram consumidos pelo núcleo duro da festa, formado pelos quatro pioneiros mais uns seis agregados: cerca de 60 chopes para cada um. A saúde era outra, o mundo era outro, a cidade era outra, a vida era outra, em 1998.
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