A culpa é de um jornal. Na década de 1950, o Diário de Notícias incentivou a criação de uma feira literária a céu aberto. E mais: uma festa encravada no Centro, na famosa Praça da Alfândega.
Na época, o local mais movimentado da Capital. Então, em novembro de 1955, começou a primeira Feira do Livro de Porto Alegre.
O Censo de 1950 (era feito a cada 10 anos) estimava a população da cidade em 394.151 habitantes. Era, portanto, uma cidade de pequeno para médio porte.
A primeira feira foi acanhada, teve apenas 15 expositores. A escalada começou no ano seguinte e não parou mais.
Chegamos à 70ª edição e, apesar de o hábito da leitura estar diminuindo, a Feira é uma demonstração de força dos livreiros.
Por um triz, a Feira não saiu em 2024. Em maio, a maior enchente da história deixou a Praça da Alfândega submersa. Foi a insistência do gaúcho que não esmoreceu e fez com que a feira ocorresse.
Para mim, a feira tem um valor afetivo. No meio da década de 1990, quando eu ainda cursava a faculdade de Jornalismo, eu saía de Caxias do Sul para acompanhar a abertura do evento.
Adquiri o hábito de ler bem cedo, aos cinco anos, quando meu pai me deu o primeiro livro. Em 1998, já morando em Porto Alegre, fiz a cobertura de uma feira pela Rádio Gaúcha. Em 2004, quando voltei de uma cobertura eleitoral nos Estados Unidos, desembarquei em Porto Alegre e um dos meus primeiros compromissos foi ir à feira.
Nem nos meus melhores sonhos imaginei que um dia estaria presente para autografar o meu livro. Agora, o valor sentimental adquiriu um patamar ainda maior.