Dias atrás, uma das minhas filhas se aproximou de mim enquanto eu lia e perguntou: "Papai, todos esses livros são teus?"
"Sim", respondi. "Mas também são teus e da tua irmã. Quando o papai virar uma estrelinha no céu, todos eles serão de vocês".
Coincidentemente, na mesma estante, está o primeiro livro que ganhei.
No verão de 1981, eu vivia a ansiedade de começar as aulas na primeira série no colégio La Salle, de Caxias do Sul. Meu pai me deu um dicionário, que guardo até hoje.
Esse livro tem um valor afetivo imensurável.
Ao final de cada página, tem uma frase. O livro encerra com essa:
"A lei não obriga ninguém a fazer o impossível".
Meu pai não era um cara cheio de diplomas. A sabedoria dele vinha dos livros.
Lembro dele sentado no sofá lendo um livro. À frente, uma estante cheia de exemplares. Desde que ele partiu, fiquei com alguns, inclusive com o dicionário.
É legado dele. E é o que vou deixar para minhas filhas.
Sempre sublinhei trechos importantes dos livros para poder lembrar depois, mas, desde que elas nasceram, passei a deixar anotações na esperança de que um dia elas vejam se se interessem pelas palavras que sublinhei.
Vou deixar tudo, inclusive o dicionário que ganhei do meu saudoso pai.