Outro dia, uma pessoa me disse que o ano está passando muito rápido. Concordei e respondi: vai piorar. O motivo é simples. Estamos cada vez mais dependentes das telas. Neste ambiente, prevalece o imediatismo. As redes sociais estão reduzindo nossa interação e nos deixando mais ansiosos. Por isso, também, achamos que o tempo está passando de forma mais acelerada.
É dever dos pais e responsáveis dar limites para que o celular não se transforme num vício
Já escrevi sobre o impacto das telas nos adultos. Mas temos um problema muito maior. São as telas, as crianças e os smartphones. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que as crianças não tenham contato com telas até os dois anos de idade. Depois disso, cabe aos adultos controlar o conteúdo. Algumas escolas não permitem mais que alunos entrem nas escolas com celular. Medida acertada. Não se trata de censurar, apenas de restringir o acesso. Quanto menos contato eles tiverem, melhor.
As telas estão reduzindo a capacidade de pensar e a interação. Isso é de extrema importância para crianças e adolescentes. Claro que minha infância nos anos 1980 foi diferente. Minha diversão eram as coisas analógicas, como brincar de carrinho e fazer amigos. Hoje está tudo no celular. Não é por nada que as livrarias estão fechando e os gibis que eu lia agora podem ser acessados virtualmente. É sinal dos tempos.
Comumente, me perguntam uma indicação de livro para entender o fenômeno. Sempre digo que não poderia indicar, pois existem vários. Apesar de não falar exatamente sobre a influência das redes na vida das crianças, o professor americano Vaclav Smil, em seu livro Grand Transitions – How the Modern World Was Made, explica as transformações que estamos enfrentando. O foco do livro são a alimentação, a energia, a indústria e a agricultura. A publicação ainda não foi traduzida para o português. Mas explica que as transformações são inevitáveis. Nosso papel é saber se adaptar a elas. O escritor ensina que em todas houve a mão do homem. As redes são uma transformação do nosso tempo. No futuro distante, o descendente do professor Smil escreverá sobre mais uma transformação. As medidas de restrição às telas são importantes. É dever dos pais e responsáveis dar limites para que o celular não se transforme num vício.