No dia 13 de março de 2013, eu estava em Roma para o conclave que elegeu o papa Francisco para chefiar a Igreja Católica. O cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio foi o primeiro não europeu a ser eleito. Na época, o catolicismo perdia fiéis para outras igrejas. E o objetivo era estancar essa fuga escolhendo alguém de um país diferente.
Naquela noite gélida e chuvosa, depois da terceira votação, a chaminé da Capela Sistina, onde os cardeais se reúnem a portas fechadas, expeliu fumaça branca, num sinal de que o novo Papa estava escolhido. Apesar do mau tempo, a praça de São Pedro estava lotada. Ao meu lado, estava o padre gaúcho Antonio Hofmeister. Eu o conheci um dia antes. Ele era o motorista dos cardeais brasileiros, e, como eles não davam entrevistas, me aproximei e pedi que me contasse o que se comentava nos deslocamentos. Somos amigos até hoje.
O Conclave era composto por 105 cardeais do mundo todo. Para facilitar o reconhecimento, ao chegar em Roma, comprei um cartaz com nomes e fotos de todos eles. A biografia do cardeal argentino aparecia num canto do cartaz que colei na parede do quarto do hotel. No dia da escolha, contei com a ajuda do padre Antonio na transmissão ao vivo pela Rádio Gaúcha.
Havia uma remota chance de um cardeal brasileiro, Dom Odilo Scherer, ser o escolhido. Na praça lotada, apenas uma torcida organizada era vista: padres e freiras enrolados na bandeira do Brasil. A cena ajudou na minha incredulidade quando foi dada a notícia na sacada da basílica de São Pedro. Pela Gaúcha, narrei ao vivo que o Papa era argentino. “O Papa é argentino!” Reforcei mais de uma vez a nacionalidade, porque todos esperavam outra escolha, menos a de um argentino, aquele do cantinho do cartaz na parede do hotel.
Escolhido o Papa, a transformação começou no dia seguinte. De cara, Francisco manteve os hábitos simples e passou a morar num prédio mais acanhado, a casa de Santa Marta. Até 2013, todos residiram no Palácio Apostólico — aquele em o Papa reza a missa aos domingos.
O papado de Francisco já conta 11 anos. Foram grandes transformações para os católicos e para o mundo.