Prefeitos de municípios da Serra, de siglas e ideologias diferentes, deixaram de lado as arengas políticas parar se unir em torno de um mesmo tema que interessa diretamente ao cidadão: a saúde pública. Eles estão inflamados com a restrição de atendimento do único hospital que atende pelo SUS na região, o Pompéia, em Caxias do Sul.
O prefeito de Caxias do Sul, Adiló Didomenico, fala em “calamidade”. O do Bento Gonçalves, Diogo Siqueira, governa a segunda maior cidade da região e tem as mesmas preocupações que o colega de Caxias do Sul. O prefeito de Farroupilha, município entre Caxias e Bento, Fabiano Feltrin , é um pouco mais comedido, mas está igualmente preocupado.
Em Caxias, o prefeito diz que são repassados R$ 2 milhões por mês ao hospital para garantir atendimento público à população que, atualmente, é de quase 500 mil habitantes.
— Essa população toda não pode ficar desassistida — comenta o prefeito.
De Bento Gonçalves, Siqueira tem uma opinião que faz coro com Caxias:
— Fiquei os últimos quatro anos como secretário da Saúde, acompanhei de perto a situação. Sempre tivemos dificuldades em transferência de pacientes. Lá temos como referência cardiologia e neurologia. Ou seja, são pacientes de alta complexidade. Infelizmente, essa dificuldade aumentou muito. Ficamos com pacientes em casos graves esperando dias pela espera de um leito. O pior é não ter a certeza de conseguir o leito! Muitas vezes, em riscos iminentes, precisamos comprar essas cirurgias ou procedimentos no Hospital Tachinni (em Bento) para salvar esses pacientes, com recursos 100% municipais, lembrando que essa obrigação de custeio é federal e estadual.
Ou seja, a União não está em dia com a tabela do SUS, desatualizada "há uns 20 anos", segundo o prefeito de Caxias. No Pompéia, alguns serviços já teriam sido reduzidos, mas Adiló lembra de um contrato que vale até 31 dezembro. Ele avalia que qualquer eventual redução de serviços precisa de um tempo de transição e sugere que o hospital passa por saneamento financeiro e pode ser vendido.
Em Farroupilha, Fabiano Feltrin, responde:
— É preciso haver atualização da tabela SUS por parte dos órgãos de saúde superiores. Tenho alertado há muito tempo as autoridades sobre a urgência desse assunto. Neste momento, precisamos unir os esforços dos municípios e da sociedade civil organizada para essa remodelação nos valores, com a devida interferência do governo federal. Enquanto isso não ocorrer, seguiremos tendo problemas na oferta e qualidade dos serviços à população, bem como a venda ou falência de instituições hospitalares.
A atual diretora do Hospital Pompéia, Lara Oliveira, nega a interrupção dos serviços e rechaça a possibilidade de venda da instituição. Por mensagem, ela respondeu à perguntas da coluna:
"O Pompéia não interrompeu absolutamente nenhuma prestação de serviços à comunidade, em nenhum momento, e cumpre integralmente o contrato com a prefeitura de Caxias do Sul. Somos uma entidade privada sem fins lucrativos, a qual não mudará a sua natureza jurídica, e por isso não será vendida. E em nenhum momento isso foi cogitado pela organização. Isso é fake news! As especialidades as quais o Pompéia é a referência para a região permanecerão sendo prestadas da mesma forma".