A imagem acima foi captada pelo repórter Alfredo Pereira, da RBS TV, na manhã desta segunda-feira (12), durante reportagem sobre a descoberta, agora comprovada em estudo, de metais pesados nas águas do Arroio Dilúvio. Deparei com esse cenário desagradável ao passar pela Avenida Ipiranga na tarde de domingo (11).
Seria uma imagem desconcertante em qualquer lugar, mas estamos num dos locais mais movimentados da cidade, numa zona valorizada de Porto Alegre, na frente do campus da UFRGS, a poucos metros de um dos maiores hospitais do Estado. É um montanha de lixo presa à vegetação do poluído córrego que nasce em Viamão, corta a Capital e acaba no estuário do Guaíba.
Não é um caso isolado. O Dilúvio é isso aí para pior.
Fala-se em 70% do esgoto não tratado escorrendo pelas águas escurecidos do arroio. São toneladas de rejeitos despejadas todos os dias pelo curso dos 18 quilômetros de extensão.
Nenhuma área de Porto Alegre é tão maltratada. Justamente a cidade que é zelosa com suas árvores. Experimente podar uma árvore de grande porte, mesmo que seja no pátio da sua casa. Vão saltar mil fiscais pedindo a autorização estatal.
Recentemente, Porto Alegre experimentou uma acalorada discussão sobre as árvores não-nativas do entorno do Hospital de Clínicas ( a 500 metros do Dilúvio), que seriam replantadas em outro lugar, em maior quantidade, para dar espaço à expansão do prédio. A obra ficou sob risco de atraso — justamente a obra que hoje deu lugar a um novo hospital, que trata de dezenas de pacientes com coronavírus.
A cidade se viu às voltas com a possível derrubada de uma bonita e histórica árvore, um Guapuruvu num condomínio particular na Avenida 24 de Outubro. Muita polêmica, bom debate. Mas falta essa mesma energia, por exemplo, para defender o Arroio Dilúvio, que é um risco infinitamente maior ao nosso ambiente.
O Dilúvio saturado de poluição é ameaça direta ao nosso meio ambiente, é falta de saúde pública adequada para quem tem o mínimo contato com suas águas. É motivo de vergonha para a Capital. Ou deveria ser.
Com que pretensão vamos atrair investimentos, vender a cidade, trazer pra cá grandes eventos internacionais tendo uma mancha como o Dilúvio. Está aí o marco do saneamento, que impõe uma meta de universalização do tratamento de esgoto. Um desafio para a prefeitura e para a população entender que o tratamento de esgoto é uma necessidade imediata para nos garantir um futuro melhor.