Zombar, tripudiar, desmerecer e desqualificar são verbos comumente presentes nos comentários de Donald Trump quando o assunto é adversários ou pandemia. A conta chegou. E a cobrança vem até mesmo para o chefe da nação mais poderosa do mundo, o homem mais protegido do planeta, a pessoa mais vigiada entre os humanos.
Ninguém é mais blindado do que o presidente dos Estados Unidos. Trump desdenhou de tudo isso.
Ignorar a realidade é assumir riscos da chamada "política da inevitabilidade" como bem define o historiador americano Timothy Snyder. A ideia pressupõe que, para chegar a um objetivo, coisas inevitáveis poderão acontecer, é a política dos riscos que suplantam o razoável, o racional, o certo. Por esse lógica, Trump calculou os riscos, mas os desmereceu em nome de um objetivo: se mostrar como homem inquebrável, imbatível na Casa Branca e nas urnas.
Em frente ao monte Rushmore, recentemente, sugeriu que seu rosto deveria ser esculpido ao lado de Lincoln, Washington, Roosevelt (Theodoro) e Jefferson. Um homem que se acha o equivalente aos quatro presidentes que representam os 150 anos iniciais de história dos Estados Unidos supera os limites da vaidade, beira a megalomania.
É este presidente que, durante sete meses, se debateu contra a realidade desde que o novo coronavírus começou a varrer a costa leste americana. Desmereceu a gravidade da doença - e agora sabemos, graças ao jornalista Bob Woodward, que foi de caso pensado - desqualificou os médicos como o sensato Anthony Fauci, tripudiou das estratégias regionais e zombou dos governadores democratas que tomaram medidas de isolamento.
Bem, a conta chega. Só que vem no momento mais importante da eleição e joga sobre a maior e mais antiga democracia do mundo uma nuvem de suspense sobre o futuro da eleição. As próximas semanas serão trepidantes.