As primeiras casas de café da Inglaterra surgiram em 1652 e promoveram uma profunda transformação social e cultural. Ao redor de xícaras cheias da nova bebida vinda da África, os britânicos debatiam a política, comentavam a economia, socializavam com novos amigos sem, necessariamente, precisar se embriagar, como nas tavernas e nos pubs. No país do chá e da cerveja, o café promoveu uma revolução de costumes. Ouvi atentamente a essa história no podcast do professor Melvyn Bragg no seu podcast In Our Times, da BBC. Todas as semanas, ele reúne três convidados, em geral professores de história, literatura ou economia para debater um assunto com profundidade histórica impressionante. Num outro episódio, o assunto foi o escritor espanhol Frederico García Lorca. Eu, que achei que sabia bastante sobre a vida, a obra e a morte de Lorca, deparei com novas descobertas.
Há algumas semanas, quis entender melhor o significado da presença virtual dos três maiores executivos de empresa de tecnologia do mundo - Google, Amazon e Facebook - numa sessão do Congresso americana. O motivo de eles estarem lá e o que disseram, encontrei em sites dos principais jornais americanos. Mas havia razões políticas mais profundas e repercussões no longo prazo sobre o futuro dessa indústria que ouvi em detalhes num excelente podcast do The New York Times, chamado The Daily. Quase toda a semana, o ator Alec Baldwin entrevista alguém interessante sobre cinema, literatura ou música no podcast Here is The Thing. Para entender melhor a China, The Little Red traz uma visão crítica ao regime de partido único. O jornalista Ira Glass foi o primeiro jornalista americano a ganhar o tradicional Prêmio Pulitzer com um produto em áudio com o programa This American Life, que também é um podcast semanal. Se eu quiser entender melhor o que vai acontecer a partir da pandemia, na ciência, na política, nas relações humanas e na economia, o Luciano Potter abriu uma temporada para ouvir grandes especialistas em cada área, no excelente Potter Entrevista. O Assunto, com a Renata Lo Prete apresenta um tema candente do momento, com profunda pesquisa e bastidores, além de ser bem ilustrado com áudios e entrevistas.
O podcast é um território sem limite para a produção de conteúdo sobre qualquer assunto, de qualquer lugar, a qualquer hora. A grande diferença é que, neste formato, quem produz um programa se vale de algumas das vantagens do rádio: o uso do áudio, a conversa informal para contar uma história e a possibilidade da mobilidade. É possível ouvir um podcast enquanto você lava louça, dá banho nas filhas, faz a corrida matinal ou, até, aguarda a consulta médica. O podcast também não substitui o rádio, que continua firme e forte para aqueles que produzem conteúdo ao vivo, voltado ao hardnews e com a agilidade que o noticiário do dia-a-dia exige. Não deixei de ouvir um só minuto de rádio desde que adotei o podcast. Abri mão, sim, de tempo em redes sociais que não despertam em mim o mesmo interesse de um podcast bem feito. Até encontrei tempo para fazer um, junto com meus colegas Luciano Potter e Marco Lazzarotto, o Era Uma Vez no Oeste.