Eleito com discurso forte de moralização, Wilson Witzel se encaixa do perfil de salvador da pátria. Ex-juiz, personificou na campanha um tipo de super-herói que iria consertar todos os problemas do Rio. Logo o Rio de Janeiro, o Estado que sintetiza o Brasil naquilo que a política tem de pior, o Estado cujo os últimos governadores vivos foram parar na cadeia. Um desconhecido, eleito por um partido do baixo clero, com forte apego ao populismo religioso - não tinha como dar certo. Na pior crise sanitária do Brasil, quando a população mais precisou do Estado, lá estava ele e os comparsas em negócios suspeitos.
Witzel não está sozinho, mas é produto dos que o antecederam. Ele só chegou ao Palácio das Laranjeiras, derrotando as principais e mais tradicionais forças políticas do Estado, por causa do caos político e administrativo do Rio. Nem as pesquisas conseguiram captar a ascensão rápida de Witzel, que se grudou em Bolsonaro para aproveitar a onda que acabaria varrendo o Brasil. Novato na política, não sobreviveu por dois anos e, além da roubalheira, provou ser igual aos que o governantes anteriores. O Rio, que tinha o cardápio completo de esquemas de corrupção - desde a merenda escolar, passando por obras, até o sistema financeiro - agora tem mais uma marca: governador, ex-juiz, na ponta de esquema que fraudou saúde na pandemia.