O dia 12 de fevereiro marcou o aniversário do nascimento de Charles Darwin. Ele disse: "A ignorância gera mais confiança do que o conhecimento: são aqueles que sabem pouco (...) que afirmam positivamente que este ou aquele problema nunca será resolvido pela ciência". Grande Darwin. Nós, cientistas, nunca temos certeza; sabemos que só a dúvida nos mantém humildes o suficiente para nunca deixarmos de aprender coisas novas.
Na semana anterior, um estudo do University College London reuniu um conjunto impressionante de evidências resolvendo um mistério conhecido como a pequena Era do Gelo na Europa, quando o Tâmisa congelava regularmente. O estudo, comentado em editorial da revista Nature e publicado na Quaternary Science Reviews, analisa uma esmagadora quantidade de evidências de que o genocídio das populações nativas das Américas nos anos 1500 modificou o clima muito antes da Revolução Industrial.
Quando os europeus chegaram ao continente americano em 1492, esse era habitado por mais de 70 milhões de pessoas – entre 3 milhões no Caribe, 33 milhões de Incas e tribos Amazônicas na América do Sul, 32 milhões de Astecas no México e mais 7 milhões nas tribos nativas da América do Norte. Compunham cerca de 10% da população mundial e eram competentes fazendeiros, com colheitas abundantes e uma cultura rica, da qual não sobrou praticamente nada. A colonização europeia matou 90% da população em menos de um século, guerreando e escravizando, mas principalmente com varíola, gripe, sarampo – não havia vacinas naquela época. Extermínio sem precedentes, holocausto, ou Grande Morte dos anos 1500 são palavras que descrevem nossa história. Contada, a propósito, com referências, pelo excelente comediante John Leguizamo em recente especial da Netflix – "Descobriram as Américas? Tipo como eu descobri sua carteira e agora ela é minha?". Grande Leguizamo.
Os cientistas calculam que a área cultivada pela população indígena era algo como 56 milhões de hectares, do tamanho da França. Ela foi abandonada e retomada por vegetação, retirando tanto CO2 da atmosfera que a temperatura do planeta esfriou a ponto de se fazer sentir – e registrar – na Europa. As bolhas de CO2 ficam presas no gelo da Antártida e mostram uma queda violenta naquele século. Em conjunto com registros geológicos de carvão e pólen, concordam com relatos de queima de fazendas e a volta da vegetação natural. Mas não só choque e tristeza nos traz esse estudo – ele pode ser usado para estimar a eficiência de áreas reflorestadas em diminuírem a quantidade de CO2 da atmosfera para manutenção das temperaturas no planeta. O cálculo resultante é que o reflorestamento de uma área do tamanho da França nos livre de dois anos de emissões de carbono nos níveis atuais.
A evidência geológica é tão contundente que existe uma proposta de que se chame de Antropoceno o período de expansão da nossa espécie, caracterizado por muito CO2 e plástico. O impacto humano é óbvio a partir dos anos 1950, mas já se fez sentir 400 anos antes.