Minha primeira e única experiência em uma audiência de conciliação não foi muito conciliadora. Em uma sala virtual, sob o comando de uma mediadora especializada em evitar que pequenos conflitos sigam o caminho judicial, eu e o homem que estava sendo processado tentávamos chegar a um acordo a respeito do que era ou não tolerável em uma troca de mensagens entre uma colunista e um leitor.
Descontente com uma opinião expressa na minha coluna, esse leitor havia me enviado um e-mail particularmente agressivo, sugerindo que eu poderia sofrer algum tipo de violência se continuasse dizendo o que eu vinha dizendo a respeito do governo Bolsonaro (em resumo, que é um desastre para o país). O e-mail me soou como uma ameaça não muito sutil, e eu decidi levar o caso à Justiça.
O que eu pedia? Uma retratação e a distribuição de algumas cestas básicas a uma instituição a escolha do leitor. Do meu ponto de vista, deixar para lá a agressão, como se não fosse importante, era banalizar os ataques, cada vez mais frequentes, contra jornalistas – em especial mulheres.
Na conciliação e, mais tarde, diante de uma juíza, ele não demonstrou qualquer tipo de arrependimento. Pelo contrário. Para espanto da juíza e do seu próprio advogado, o homem repetiu, durante a audiência, que eu merecia “um corretivo”. Perdeu a ação, como seria de se esperar, mas em seguida entrou com um recurso, que ainda não foi julgado.
Se em um litígio aparentemente tão simples foi impossível chegar a alguma espécie de acordo ou pedido de desculpas, imaginem em conflitos mais graves. É muito raro pararmos para pensar como a Justiça funciona, como poderia funcionar e como sanções, punições e castigos atendem ou não aos interesses da sociedade.
Esse é o ponto de partida do podcast Crime e Castigo, disponível nos principais players digitais desde o início do mês. Em seis episódios, o programa apresenta depoimentos de vítimas, criminosos e familiares envolvidos em casos reais de homicídio, violência sexual e estelionato, entre outros crimes, além da opinião de especialistas. O objetivo é levar o ouvinte a refletir sobre tópicos como política criminal, advocacia colaborativa, penas alternativas, punição para crimes hediondos, reparação e a própria ideia de Justiça.
No site da Rádio Novelo, que produz o podcast, é possível acessar artigos e entrevistas que ajudam a aprofundar a reflexão sobre esses temas. Onde a Justiça funciona e é respeitada, o único “corretivo” que podemos desejar para quem discorda de nós é esse: mais e melhores ideias.