"Bloco conservador", "defensores de grupos de interesse", "mercenários". Andrés Manuel López Obrador, cuja continuidade na presidência do México é submetida a um referendo neste domingo, ataca cotidianamente à imprensa em um dos países mais perigosos para os jornalistas.
Os jornais Reforma e El Universal, os maiores do país, o semanário Proceso e outros locutores são os nomes que o mandatário mais menciona em sua coletiva de imprensa que acontece de segunda à sexta e que pode durar até três horas.
"Estão alinhados a um bloco conservador. O propósito é nos prejudicar (...) falta ética no jornalismo", reagiu López Obrador em 22 de fevereiro após que os meios de comunicação questionaram uma luxuosa casa em que seu filho morou em Houston.
- "Agressão"-
É muito importante que tudo isso se saiba, de que os meios, não todos, são defensores de grupos de lobby criados, de gente que não pagava impostos, que dirigiam a política econômica. Tinham muita influência com os presidentes", acrescentou AMLO, como é conhecido por suas iniciais esse esquerdista que prometeu acabar com o neoliberalismo imposto pelos seus antecessores.
"É uma agressão direta do presidente à minha pessoa", respondou Carmen Aristegui, conhecida jornalista de rádio que em 2015 foi despedida de um noticiário após revelar que a esposa do então presidente Enrique Peña Nieto (2012-2018) havia adquirido uma mansão na capital.
"Não estamos a favor nem contra o seu governo. O propósito é informar", acrescentou Aristegui, que agora trabalha na Radio Centro e tem um programa na CNN em espanhol.
"Parte do problema é a frequência do comentário", disse à AFP o diretor do diário Reforma, Juan Pardinas, que assegura que o presidente mencionou "mais de 300 vezes" o jornal em suas coletivas.
Oito comunicadores foram assassinados em 2022 segundo a contagem do Repórteres Sem Fronteiras (RSF), sem determinar se em todos os casos o crime está ligado ao trabalho jornalístico.
Os assassinatos de jornalistas duplicaram nos primeiros três anos do governo AMLO, segundo a ONG Artículo 19, ao somar 30 contra 15 no mesmo período de Peña Nieto.
A maioria das vítimas são comunicadores que trabalham em condições precárias em zonas assoladas pela violência e nunca os donos dos meios, editorialistas ou jornalistas da capital atacados pelo presidente.
* AFP